Cesartralização na Globo
Por Flávio Dutra

César Tralli, jornalista, 54 anos, 32 deles na Globo, vai entrar para a história da emissora por introduzir no telejornalismo o comentário vazio. Desde 2021 ele ancora o 'Jornal Hoje', acumulando com a apresentação na GloboNews do Edição das 18h. É nesses espaços nobríssimos que o Tralli desfila suas platitudes a cada matéria que vai ao ar. Opina sobre tudo e sobre todos sem nada acrescentar, comenta sem comentar e dispara obviedades com pompa e circunstância. Faz o gênero educadinho opiniático, com mesuras e muitos agradecimentos aos repórteres que entram ao vivo. É chamada Cesartralização no hard news da Globo.
Era de se esperar do Tralli participações mais consistentes, tendo em vista a formação e a experiência profissional dele, inclusive como correspondente internacional em Londres e coberturas importantes no Brasil e mundo afora.
Vocês acham que estou sendo cruel demais com o bom moço Tralli? Tem coisa pior. Nas redes sociais ele recebeu críticas pesadas, foi chamado até de "covarde" por amigo esquerdista, porque, diferente de tantas outras intervenções, não fez nenhuma manifestação após a reportagem que mostrava a morte de jornalistas em Gaza. Tralli é insosso, mas não é burro. Diante do assunto mais sensível, em que as suas trivialidades podem pegar mal, ele prefere o silêncio e segue o baile.
As opiniões cesartralisticas me reportam ao Boris Casoy, que no TJ Brasil do SBT, manifestava sua indignação com "isso é uma vergonha". Repetia tanto que virou um bordão. Também não acrescentava nada, mas era o Boris Casoy. Agora o Tralli parece estar fazendo escola na Globo, tanto assim que seus eventuais substitutos no jornal Hoje, os sóbrios Roberto Kovalick, que conheci como repórter na Rádio Gaúcha e o Alan Severiano, ex-correspondente nos EUA, também passaram a opinar no complemento das matérias. Isso me leva a suspeitar que a Globo está fazendo um experimento no horário, para depois adotar em outros espaços jornalísticos, o que seria uma redundância, especialmente no caso da GloboNews, que tem uma bancada de analistas de todos os matizes e competências.
Na verdade, o que estaria em jogo em todo esse processo é a sucessão futura de William Bonner no 'Jornal Nacional'. Tralli, primeiro na hierarquia das substituições eventuais, estaria se cacifando para ascender ao posto maior na ancoragem dos telejornais da rede. Aí abre vaga tanto no 'Hoje' como na 'GloboNews', a dança das cadeiras agita o ambiente e os potenciais candidatos tratam de também se credenciar, mostrando que teriam domínio dos temas reportados.
A ansiedade dos repórteres em dar opinião não é recente, nem privilégio dos veículos nacionais. Anos atrás, numa palestra em Caxias do Sul para a equipe que estava iniciando um projeto jornalístico na principal rádio local, o questionamento recorrente era se repórter podia ou não opinar. Minha resposta: pode opinar quem tem opinião para dar. Ou seja, quem tem bagagem, conhecimentos e densidade nos conteúdos. Todo o resto é achismo.