Chegou a hora de o nosso futebol sair da fila?

Por Rafael Cechin

A sequência de 16 jogos sem perder do Inter leva os colorados a um delírio enorme, um sentimento que não é inédito para os torcedores gaúchos nos últimos anos. A mesma euforia tomou conta dos gremistas no ano passado, quando na reta final encostaram na ponta orquestrados por Suarez, em 2020/2021 fez o Inter chorar centímetros na perda do título para o Flamengo. E por aí vai. Na atual temporada a esperança existe, apesar das muitas dificuldades.

Nas últimas semanas boa parte da torcida do Estado (inclusive do lado azul) virou especialista em matemática. Muitas vezes avançada! É um tal de "se ganhar aqui", "se perder ali", "seca um", "seca outro" que só alimenta o ambiente de expectativa alta. E mais: ao contrário de anos anteriores, o Inter faz a sua parte no período decisivo do campeonato. A invencibilidade diz muito em relação ao momento.

Sob o comando de Roger Machado, o aproveitamento beira os 69%, o que daria ao clube a liderança do Brasileirão. No segundo turno, a campanha é histórica, não apenas pelo primeiro lugar na segunda metade, mas pelos 77% de pontos conquistados até agora. Tem tudo para bater o recorde de pontuação num turno único dos pontos corridos.
Os méritos não param. Com a sequência invicta, se tornou um dos melhores ataques, uma das melhores defesas, tem um dos goleadores, a posse de bola só cresce, e tudo isso faz com que ninguém duvide do potencial do Inter para o resto de 2024 e, principalmente, para o ano que vem.

A pergunta no título deste artigo refere-se ao jejum de quase três décadas sem conquistar a principal competição do calendário brasileiro. Desde 1996 estamos na fila. Chegou a hora de acabar com isso? A resposta sincera é "já passou da hora". O problema deste ano é que a distância ficou grande e não é fácil diminuir ao ponto de ultrapassar os líderes na última rodada.

Basta a Palmeiras e Botafogo uma ou duas vitórias para terminar com o sonho colorado. Sem falar que Flamengo e Fortaleza, justamente adversários que vão receber o time do Roger em suas casas, também estão no bolo. É muito complicado. No final da história, pode ser que o ótimo futebol que elevou a expectativa da torcida vermelha crie uma tremenda frustração. É bem provável, inclusive.

Os palmeirenses lutam pela terceira taça seguida assumindo um certo favoritismo na reta final. Têm pela frente o Botafogo em casa nesta semana (se você lê depois de terça já sabe o resultado), depois o Cruzeiro fora e fecha diante do Fluminense de novo em São Paulo. O Botafogo tenta evitar uma nova decepção com tabela igualmente complicada: depois do Palmeiras fora, enfrenta o Inter no Beira-Rio e o São Paulo no Rio.

Para manter o Inter na briga, ambos podem chegar no máximo a três pontos nos nove em disputa. Não é impossível, claro. A questão é que o improvável teria de entrar em campo em algumas partidas. O que segura o objetivo de título em alta é o ótimo futebol que a equipe leva aos gramados.

Se a fila sem sermos campeões nacionais tende a aumentar neste ano, continuamos tentando evitar que o roteiro de rebaixamento se repita. Grêmio e Juventude estão ameaçados e, por mais que a tabela não mostre, o tricolor vive pior fase. As atuações estão cada vez mais lamentáveis. Não se enxerga melhora.
Na nossa eterna gangorra, dá para dizer que o Inter é a antítese do Grêmio e vice-versa. Um joga muito, o outro joga pouco. Torçamos para que o ano se encerre com alegrias, ou ao menos sem tristezas, para os nossos clubes.

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