Conquista de muitos significados
Por Renato Dornelles
O ano começa com uma grande notícia para o cinema brasileiro, com a conquista do Globo de Ouro pela brilhante atriz Fernanda Torres, por sua interpretação em "Ainda Estou Aqui", em uma premiação que tem muito significado e importância, não só para a atriz, como para a preservação da memória do país.
O Globo de Ouro premia com grande justiça o talento de Fernanda Torres e, por tabela, sua família. Fernanda Montenegro, também foi lembrada em muitas premiações internacionais por sua atuação no premiadíssimo "Central do Brasil".
Fernanda Montenegro ganhou, entre outros prêmios, o Urso de Prata, no Festival de Berlim, que também premiou a obra com o Urso de Ouro. "Central do Brasil" também conquistou o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e foi indicado ao Oscar na mesma categoria, enquanto que Fernanda Montenegro concorreu a melhor atriz na premiação da Academia. Logo, as Fernandas, assim como "Central do Brasil" e agora "Ainda Estou Aqui", mostram a fora do cinema brasileiro.
Há outro aspecto a ser destacado em "Ainda Estou Aqui": a preservação da memória do período da ditadura militar. Aqueles tristes tempos jamais deverão ser esquecidos, até para que não se repitam na história brasileira atrocidades, como o desaparecimento do deputado Rubens Paiva, tema do filme e do livro que deu origem à obra cinematográfica.
Na Argentina, o governo do presidente Javier Milei determinou o encerramento das atividades do Centro de Memória Cultura Haroldo Conti, considerado um dos maiores museus contra a ditadura militar no país. É uma forma de o governo de extrema-direita do país vizinho tentar esconder a truculência e a crueldade praticadas durante o período de ditadura militar.
O museu argentino, que leva o nome de um escritor sequestrado e desaparecido em 1976 (assim como o deputado Rubens Paiva, preso e morto nas dependências de um quartel militar, em 1971), além de resgatar a memória dos anos de chumbo, ainda era usado para atividades de teatro, literatura, dança, fotografia e educação.
Por isso tudo, viva a arte, viva a cultura, viva a memória, viva a Fernanda Torres, viva "Ainda Estrou Aqui". E ditadura nunca mais. Nem em forma de suposta e falsa liberdade de expressão. Por sinal, nesta quarta-feira (8/1) chegamos a dois anos dos vergonhosos atos antidemocráticos em Brasília. Que também não se repitam.