Coopítulo 78 - Elmar 80 anos

Por José Antonio Vieira da Cunha

Quando se preparava para escrever um perfil de Elmar Bones da Costa, o jornalista Márcio Pinheiro pediu minha opinião sobre o amigo que estava completando 80 anos agora no final de janeiro. Márcio queria saber como foi a atuação do Bicudo, como todos nós o conhecemos, na Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre e em especial no Coojornal, do qual foi o editor durante a fase áurea do mensário. Com o maior prazer, registrei: Elmar esteve atuante desde o primeiro momento da Coojornal e é diretamente responsável pelos melhores momentos do Coojornal e pelo equilíbrio e sensatez nos debates e análises sobre o papel e a importância da cooperativa no cenário conturbado da segunda metade dos anos 70.

Na história da Coojornal, Bicudo tem um papel de grande destaque desde a gênese, como integrante do grupo que começou a levantar a ideia de criação de uma cooperativa de jornalistas. Estava na mesa dos trabalhos da assembleia de fundação. Junto com Jorge Polydoro era sócio de uma empresa, a Verbo, editora que foi incorporada pela cooperativa seis meses após sua fundação. Esta ação foi o marco do início concreto de trabalhos na Coojornal, pois editava algumas publicações especializadas, entre as quais despontava o Jornal do Inter.

Elmar foi um dos profissionais essenciais para o estágio de excelência alcançado pelo Coojornal. Então com 30 anos, já trazia uma extensa carreira em veículos como a Veja, onde foi um dos integrantes de sua primeira redação, no final dos anos 60, e como a Gazeta Mercantil, da qual era seu diretor regional. Sua gama de relacionamentos com colegas de todo o país foi essencial para trazer para as páginas do Coojornal inclusive reportagens que grandes veículos temiam publicar.

Equilibrado e cauteloso como aqueles anos difíceis exigiam, estava sempre atento para não dar margem a qualquer tentativa de se impor censura prévia no Coojornal, defendendo que a autocensura sempre seria uma causa mais coerente do que entregar o material para alguém censurar. Lembro que no caso dos relatórios do Exército sobre a guerrilha, que o jornal revelou com coragem e exclusividade, foi ele quem defendeu com mais ênfase sua publicação com o ponto de vista de que seria importante provocar uma discussão em torno do assunto e divulgar documentos que a opinião pública tinha direito de saber.

A divulgação desta mancha na imagem militar envergonhou a caserna, mas nem o fato de o país estar iniciando a caminhada para a abertura democrática impediu o sistema de partir para a retaliação. Um inquérito foi aberto com epílogo em julho de 1981, com a condenação a cinco meses de prisão dos quatro jornalistas que assinaram a reportagem. Além de Elmar, Rosvita Saueressig, Osmar Trindade e Rafael Guimaraens.

Elmar era assim, liderava o processo no limite da censura, sabendo recuar com lucidez nos momentos delicados. Como era praticamente impossível identificar o que seria este limite, foi ele quem decidiu apostar em temas pesados através da história abordando com exaustão pautas como o getulismo e o castilhismo, para ficar em apenas dois exemplos. Mas não nos enganemos, sua ousadia esteve sempre acompanhada de uma postura ponderada, inteligente e equilibrada. Era como se manifestava nas longas reuniões que o Conselho de Editores da Cooperativa dos Jornalistas realizava praticamente todas as segundas-feiras. Tinha pouco mais de 30 anos, mas era o mais antigo entre aqueles jovens que alimentavam o sonho de participar da criação de um verdadeiro jornal de jornalistas.

Comentei com o Márcio, e esta observação está presente no trabalho que o Jornal do Comércio publicou: uma das características do Elmar é saber identificar talentos e apostar neles. Tem muito bom jornalista por este Brasil afora que bebeu de sua sabedoria no início de carreira. 

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas passagens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem quatro netos. E-mail para contato: [email protected]

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