Coopítulo 99 - Mais registros notáveis
Por Vieira da Cunha

O Coojornal, já registrei aqui outras vezes, era um raro veículo a dar atenção a áreas como a da universidade e a da publicidade, entre outras que não o jornalismo. Dava foco especial em fatos ocorridos naqueles setores e que impactavam de alguma forma o exercício da imprensa ou as empresas de comunicação. Um bom exemplo está no ingênuo artigo que o jornal da Famecos publicou em uma de suas edições ao longo de 1976. Criticava o que generalizava como sendo os "medalhões" da imprensa gaúcha que alcançaram "posições invejáveis" compensadas por "altos salários". Os medalhões eram identificados como possuidores de "um talento duvidoso", que distribuíam comentários de "pouca credibilidade" e "povoados de clichês e lugares comuns".
No mercado, o artigo soou como pretensão demasiada para um jornalzinho universitário, e a repercussão foi imediata, com notáveis da comunicação vestindo o boné. "Quero ver uma estagiária destas fazer o que eu faço", decretou a já poderosa Tânia Carvalho, então no Câmera 10, telejornal da TV Difusora, antecessora da Band. "A maioria de vocês não sabe ler nem escrever", vociferou Paulo Sant'Anna no comentário diário que tinha no Jornal do Almoço da TV Gaúcha, hoje RBS TV. Na Zero Hora, o polêmico Mendes Ribeiro registrou que eram "coisas de crianças que merecem umas palmadinhas no popô".
Sérgio Jockymann, outro polemista de primeira, foi mais longe e mais decidido: procurou o diretor da Famecos Antonio Gonzales, expôs suas inconformidades com o teor do comentário e acabou participando de um debate de duas horas com os estudantes.
Os alunos do Curso de Comunicação da Federal de Santa Maria também agitavam. Acusavam a direção de censurar opiniões, reclamavam da falta de material didático. E avançaram na crítica ao denunciar o que consideravam má qualificação da maioria de seus professores.
As páginas do Coojornal registram que as faculdades de Comunicação tinham dificuldades para produzir seus jornais-escola, considerados essenciais para uma adequada formação dos alunos. Eram verdadeiros laboratórios, em um cenário no qual o Experiência, da Famecos PUC, era saudado por suas edições inteligentes e de boa qualidade. Mas mesmo esse tinha dificuldades para circulação. Carlos Urbim, jornalista criativo por excelência e que se notabilizou também como escritor, especialmente de obras infantis, apresentava-se como o anti professor, escreveu:
- É professor reclamando contra o curso, é aluno nada sabendo sobre o curso e há uma série de pessoas completamente desinformadas sobre Comunicação (que está fora de moda), sobre a profissão de jornalistas ou sobre esta coisa estranha e complicada que é fazer jornal.
Na Fabico da Ufrgs, que tinha o jornal 3 x 4, surgiu também o Entrelinhas com o propósito de motivar o universitário a ser mais participativo. O entendimento é de que havia pouco envolvimento com com os problemas da categoria jornalística e da sociedade em que viviam. Os estudantes da federal desdenhavam do 3 x 4, que consideravam um jornal "apenas para dar nota" que garantisse a conclusão do curso.