Croniquetas

Por Vieira da Cunha

Amor e joia são sinônimos? Não no dicionário, mas na vida real brilham e se encaixam de uma forma espetacular. Basta amar. 

...

Como vai a senhora? Prazer, não nos conhecemos, mas posso me apresentar: sou a Boa Morte e só me aproximo das pessoas que prezo. Como assim, me preza? Se vens aqui pra me levar, não interessa gentilezas numa hora dessas. Ah, é? Está bem, se a senhora prefere um atropelamento ou quem sabe um tiro no coração, posso providenciar ainda amanhã. Não! Não! Por favor, esclareça o que seria a "boa morte". Feche os olhos que terás a resposta. Pronto, fechei. Tenha então uma boa morte e siga em paz. Já foi? Menos uma então.

...

Cuidado com o cheiro de chulé, diz um aviso que eu li. Desconsiderei: não explica como se toma cuidado com isso nem eu dele padeço. De mais a mais, há muitos cheiros bem piores neste mundo para se preocupar. Eu, hein?

...

Domingo à tardinha. Fim de festa. João e Júlia se despediram felizes de Pedro e Rosa. Na sacola, pedaços de frango e fatias da torta. Beijos, promessas de reencontro no próximo fim de semana. Mal sabiam que não haveria o tal fim de semana. Não para os dois casais. Soube-se depois que o desentendimento começou ao chegarem em casa discutindo. Júlia cobrou João por um comentário inconveniente a respeito da sunga de Pedro. Ninguém, além deles, ficou sabendo qual teria sido o palpite infeliz. E isso lá é motivo para separação de um casal que estava junto há 13 anos? Vai saber...

...

Cervejaria em Viena. O acordeonista circula pelas mesas repletas de turistas. Espanhois? Toca Bésame Mucho e saboreia os aplausos. Franceses? Ataca de La Vie en Rose. Sorri satisfeito. Brasileiros? Vai de La Cumparsita. Epa, essa é um tango argentino. O músico se desculpa e se desdobra executando O Sole Mio. Uau, também não é nossa! "Schau ma mal", se desculpa novamente. E ataca de Aquellos Ojos Verdes para se redimir. Constrangidos, os brasileiros acham melhor aplaudir mesmo assim. O trapalhão se retira, e segue em frente feliz. Feliz e ignorante. Nem Garota de Ipanema conhece! 

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas passagens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem cinco netos. E-mail para contato: [email protected]

Comentários