Curvado mas ereto
Por José Antônio Moraes de Oliveira


" Ele foi o melhor que a guerra produziu, mesmo passando metade do tempo bebendo champanha".
Franklin Delano Roosevelt.
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Quando tentei saber de um velho amigo, viajante contumaz, o que devia fazer para entender a Inglaterra e os ingleses. Sua resposta: passear pela Praça do Parlamento, no centro de Londres, onde estão testemunhas da essência e da alma britânica. De um lado, o imponente Big Ben, do outro lado, a Abadia de Westminster, onde reis e rainhas foram coroados ou dormem sob mármores centenários.
E ao fim, o Viajante deve contemplar as estátuas que ornam os jardins. Ali estão notáveis na história da Grã-Bretanha e da Europa: Benjamin Disraeli, David Lloyd George, Mahatma Ghandi e Winston Churchill.
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É preciso atenção diante da estátua de Sir Winston Leonard Spencer Churchill. Ele está curvado, como se ainda sentisse o peso de tantos desafios e conquistas, enquanto tem o olhar no Parlamento, onde pronunciou discursos memoráveis. Foi uma das figuras mais controversas de nosso tempo, mas poucos como ele mereceram um oceano de artigos, estudos, livros e filmes. Foi extraordinário em tudo, seja como perdedor nas disputas políticas ou em campanhas militares fracassadas. Mas emerge como o grande vencedor da II Guerra Mundial, quando desafiava a todos - da inércia dos pacifistas às ameaças do militarismo alemão. Seu imenso ego sobreviveu até o fim, quando escreveu seu próprio epitáfio:
"Estou pronto para conhecer meu Criador. Mas não sei se Ele está preparado para a grande provação de me conhecer".
A escritora e jornalista inglesa Dominque Enright dedicou anos pesquisando livros, discursos, memorandos e palestras para selecionar suas melhores frases, chistes e tiradas. "A Verve e o Veneno" motra como o grande estadista exergava o mundo e as pessoas. O livro abre com uma frase que resume WSC:
"Era um homem que amava as palavras".
E desfila provocações e estocadas aos poderosos da época:
" Aquele senhor tem todas as virtudes que não gosto e nenhum dos vícios que aprecio".
" O político conciliador alimenta um crocodilo na esperança de que ele o devore por último".
"A política consiste na habilidade de prever o que vai acontecer amanhã, no próximo mês e no ano que vem. E ter a capacidade de explicar depois por que nada daquilo aconteceu."
Não perdoava os oradores da oposição na Câmara dos Comuns:
"Quando se levantam, não tem ideia do que vão dizer, enquanto falam não sabem o que estão dizendo e quando se sentam não lembram do que disseram".
Não confiava nas propostas da extrema esquerda:
"Um comunista é como um crocodilo: quando abre a boca, você não sabe se está tentando sorrir ou pronto para devorá-lo".
Em resposta ao jornalista que perguntava como se mantinha saudável, bebendo como bebia e fumando como fumava:
"Nunca pratiquei esporte".
A um amigo que se queixava dos inimigos:
"Você tem inimigos? Otimo, significa que você brigou por algo que vale a pena."
E sem esquecer uma das mais celebradas, que é repetida até hoje:
"O verdadeiro sucesso consiste em ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo".
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