Democratização do Audiovisual

Por Renato Dornelles

Não é um processo fácil, mas com ações efetivas, ele vai acontecendo: a democratização (com inclusão) do audiovisual brasileiro. Durante a realização do 53º Festival de Cinema de Gramado, nas duas últimas semanas, novos passos foram dados.

Para essa democratização têm contribuído leis como a Paulo Gustavo. Por meio dela, o jovem talentoso Crystom Afronário não só marcou presença, como fez história em Gramado. Seu filme "Aconteceu a Luz da Lua" recebeu o "Prêmio Especial do Júri" na mostra nacional de curtas-metragens.

O filme é ambientado no Morro da Cruz, periferia de Porto Alegre, onde Afronário vive, cresceu, cultivou e pôs em prática alguns de seus sonhos. No enredo, dois jovens enfrentam desafios na busca por um futuro melhor. Um deles, almejando concluir o ensino médio para ajudar sua comunidade, incentiva o amigo, que é apaixonado por audiovisual, a acreditar em seu potencial.

Há de se destacar também a comemoração do prêmio, com a comunidade do Morro da Cruz, com jovens e crianças, principalmente, marcando presença no tradicional tapete vermelho que leva ao Palácio dos Festivais.

Antes da mostra nacional, Afronário já havia participado, neste mesmo festival, da Mostra de Curtas Gaúchos, com o filme "E Depois de Fevereiro?", que retrata a vida em entidades carnavalescas de Porto Alegre (escolas de samba e tribo). Aliás, tive uma grata surpresa ao ouvir minha própria voz em um trecho do curta, com um comentário sobre a tribo remanescente, "Os Comanches", extraído de uma transmissão de Carnaval.

Outra ótima notícia foi a outorga do "Prêmio Iecine Destaque" ao longa-metragem "Um é Pouco, Dois é Bom", de 1970, do saudoso Odilon Lopez. A premiação foi recebida pela colega jornalista e filha de Odilon, Vanessa Lopez.

Com a bela obra, Odilon Lopez foi pioneiro e, durante muito tempo, o único negro a dirigir um longa-metragem no Rio Grande do Sul. Com o passar do tempo, viriam outros, entre os quais me incluo. Mas ainda há um longo caminho a ser percorrido pela efetiva democratização do audiovisual em termos raciais, de gênero e sociais.

Neste sentido, acredito que mais um grande passo tenha sido dado pela Secretaria da Educação (Seduc) que, em parceria com a Secretaria da Cultura (Sedac), durante o festival anunciou oficialmente a criação da primeira Escola Técnica Pública Estadual de Audiovisual e Economia Criativa do Rio Grande do Sul, que vai funcionar em Porto Alegre. Para melhorar a situação, falta universidades públicas criarem seus próprios cursos de cinema pois, por enquanto, por aqui, em ensino superior, eles existem apenas em instituições privadas.

Autor
Jornalista, escritor, roteirista, produtor, sócio-diretor da editora/produtora Falange Produções, é formado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) (1986), com especialização em Cinema e Linguagem Audiovisual pela Universidade Estácio de Sá (2021). No Jornalismo, durante 33 anos atuou como repórter, editor e colunista, tendo recebido cerca de 40 prêmios. No Audiovisual, nos últimos 10 anos atuou em funções de codireção, roteiro e produção. Codirigiu e roteirizou os premiados documentários em longa-metragem 'Central - O Poder das Facções no Maior Presídio do Brasil' e 'Olha Pra Elas', e as séries de TV documentais 'Retratos do Cárcere' e 'Violadas e Segregadas'. Na Literatura, é autor dos livros 'Falange Gaúcha', 'A Cor da Esperança' e, em parceria com Tatiana Sager, 'Paz nas Prisões, Guerra nas Ruas'. E-mail para contato: [email protected]

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