Do indizível ao indefinível

Nunca se sabe.Quando os raios ou as ilusões caem.Como o pó acumula sobre os móveis, se não se vê o pó chegar.Se é o …









Nunca se sabe.
Quando os raios ou as ilusões caem.
Como o pó acumula sobre os móveis, se não se vê o pó chegar.
Se é o nervosismo que revela o pigarro ou se é vice-versa.
Por que, com cep certo ou cep errado, as más notícias sempre
batem à nossa porta.
Qual a fonte de água forma a gota de água que deságua
definitivamente uma pessoa.
Por que a grama cortada exala apenas o seu exato cheiro
de grama cortada.
Quanto de medo produz um pensamento medroso.
Se o sono é solto por causa da cama vazia ou se a cama
parece vazia porque o sono é solto.
Como o céu faz pra repetir o mesmo tom de azul que evoca
aquele dia azul que não se esquece jamais.
Qual a sensação de ter sensações que não são as nossas.
Quando um homem e uma mulher vão se tornar únicos.
Por que uma manta aquece mais que um mantra.
Qual o grau de isolamento suficiente para afastar 7 bilhões
de pessoas de nós mesmos.
Se é café com leite ou leite com café.
Quanto de tempo de alegria ou de sofrimento contém uma
ampulheta isenta.
Como um olhar ora intriga ora entrega.
Por que um reencontro, às vezes, vale mais que qualquer encontro.
Se as perdas doem para a frente ou para trás.
Nunca se sabe nunca.



(Texto publicado em 9/9/05)


Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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