Eles não usam black tie
Por Marino Boeira

Em 1958, Gianfrancesco Guarnieri escreveu a peça Eles Não Usam Black Tie, um discurso político sobre os brasileiros oprimidos, mas esperançosos de que uma redenção era possível.
Era uma época em que todos nós discutíamos política e nela só cabiam duas posições: ou se aceitava o Brasil como ele se apresentava ou se defendia o socialismo, que poderia chegar por via pacífica ou pela luta armada. Como todo mundo sabe, ele nunca chegou e no seu lugar vivemos 21 anos de ditadura militar.
Entre todos os males que ela trouxe, o pior talvez seja o conformismo geral da maioria das pessoas. Hoje temos duas posições dominantes: os que defendem um regime parecido com a ditadura, comandada agora por civis, cuja representação maior é o bolsonarismo, que os desinformados chamam de equivocadamente de fascismo e os que defendem um grande acordo nacional entre trabalhadores explorados e segmentos da burguesia exploradora (banqueiros, grandes empresários e o pessoal do agro) que sejam um pouco mais sensíveis às necessidades do "povão".
Quem representa esse segmento é o PT e seu guru é o Lula, o primeiro e único, o ungido dos deuses para conduzir seu povo por esse deserto em que vivemos, o novo Moisés. A massa bolsonarista é composta por ignorantes totais da política, enquanto a massa lulista é composta por aqueles ingênuos que devotam um culto religioso ao seu líder infalível e um pequeno segmento de intelectuais mais esclarecidos que aderiram ao lema de "dos males, o menor".
Entre Lula e Bolsonaro, para eles, embora não confessem, Lula é o mal menor. Uns poucos, entre os quais pretendo me incluir, ainda pensam que a Revolução Brasileira é possível.