Em uma década, o fim do século americano

Porque não um novo Bretton Woods, quando, em 1944, o dólar foi definido como a “moeda mundial”? Esta é a proposta de David Zoellick, …

Porque não um novo Bretton Woods, quando, em 1944, o dólar foi definido como a "moeda mundial"? Esta é a proposta de David Zoellick, presidente do Banco Mundial. Uma nova cesta, envolvendo o euro, o dólar, o iene, o yuan e a libra. Pervez Ghari, catedrático e especialista em economia internacional do King's College de Londres, tem mais urgência. Prevê a adoção do euro a curto prazo e, "dentro de 20 a 30 anos, do yuan". Guido Mantega, ministro da Fazenda, propõe uma moeda do FMI, que já possui os Diretos Especiais de Saque para desequilíbrios monetários.
Isto porque a reunião do G20 em Seul, nos dias 11 e 12, foi um fracasso, com nada decidido sobre a tensão, ou guerra cambial, tudo transferido para 2011. Fracasso particularmente para Obama porque todas as suas propostas para recuperação econômica mundial foram rejeitadas. "Você usa um argumento que costuma ser feito: deixe de lidar com o déficit (arrecadação versus gastos do governo) porque tirar dinheiro da economia reduzirá sua taxa de crescimento", disse David Cameron, primeiro ministro do Reino Unido, entre outros pronunciamentos de líderes europeus e asiáticos.
Obama foi colocado no pelourinho pela sua política de injetar dinheiro na economia, a já famosa compra pelo Tesouro de US$ 600 bilhões em títulos americanos. Os demais países temem a especulação, mas agora as suspeitas são de que um objetivo é o de desvalorizar as demais moedas e, com dólar barato, incentivar as exportações dos EUA, revitalizando seu combalido mercado interno. Os EUA tentam igualar-se à China no domínio dos mercados através de uma moeda subvalorizada? "Não é certo que os americanos acusem a China de manipular a taxa cambial e, então, pressionar para baixo a taxa cambial do dólar, ao escancararem as comportas hidráulicas", disse Wolfgang Schaupfe, ministro das Finanças da Alemanha. Allan Greenspan, ex-presidente do FED, apressa-se a contestar, apesar das acusações: "Não, é para o fortalecimento interno da economia".
No início de seu mandato Obama afirmou que a China seria a parceira no século XXI. Com um Congresso Republicano disposto a cortar as asinhas do presidente, restou-lhe a política externa, que ficou boiando em Seul. Antes da reunião do G20 fez um giro de 10 dias pela Ásia, Índia, Indonésia e Coréia do Sul, elegendo a Índia como parceira ideal. Tudo para dar um forte beliscão na China, que se prepara para receber um investimento de US$ 2 bilhões da General Eletric e uma unidade dos sofisticadíssimos Jaguar Land Rover.
Bretton Woods reuniu em New Hampshire (EUA), em julho de 1944, nada menos do que 734 delegados de 45 aliados para recolher os cacos de uma ordem econômica e financeira estraçalhada pela guerra. Ali são criados o Fundo Monetário Internacional e o Banco Interamericano de Reconstrução e Desenvolvimento, mais tarde Banco Mundial. Os Estados Unidos eram o único país que não havia sido destruído pela guerra, e desejava que fossem criadas todas as condições favoráveis para escoar seus excedentes de produção e impulsionar o seu crescimento econômico. Os EUA tinham metade do PIB mundial e 60% das reservas em ouro.
Ou seja, substituir a libra inglesa, então moeda padrão, pelo dólar, foi uma contingência inexorável. Deveria ficar lastreado em ouro, o que Richard Nixon aboliu em 1970 para injetar dinheiro na economia, mediante uma simples impressora. É o que faz agora Obama, recebendo a repreensão da comunidade internacional. Ao que se nota, muito interessada em retirar o dólar de seu lugar de estrela do firmamento econômico e financeiro.

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