"(...) No fim, vai dar tudo certo."

Fernando Sabino.

Era 1956 e eu estava começando como estagiário no jornal A Hora, que se lançava em Porto Alegre. Era impresso a quatro cores, estampando fotos e manchetes de 8 colunas na capa. E eu estava lá, às voltas com boletins da France Press e redigindo tristes necrológios. Sonhando em fazer de mim um jornalista de verdade. Mas, naquela tarde, minha rotina foi interrompida pelo diretor de redação. Me chama e diz que precisa resgatar matérias pendentes de um repórter titular, de cama com gripe. 

***

Na mesa e gavetas do colega havia de tudo, textos inacabados, papéis com notas ilegíveis e uma lista de entrevistas a marcar. O chefe arrebanhou os textos, jogou no lixo os rabiscos e para o estagiário restou a missão de marcar as entrevistas. Olhei mais uma vez os nomes da lista. Nada de emocionante, apenas rotina. Mas um nome merece atenção - o de Fernando Sabino, o escritor mineiro que lançava seu livro de memórias "Encontro Marcado", com repercussão nos meios literários do Rio e São Paulo. 

Aquilo tinha jeito de uma oportunidade de ouro. Era quase hora de fechamento do jornal. O diretor de redação estava com a mesa atulhada de papéis e falava em dois telefones ao mesmo tempo. Esperei uma brecha e me ofereci - na verdade, quase implorei - para fazer aquela entrevista. Ele me olha por meio minuto, gesticula mandando ir em frente e volta aos seus dois telefones. Nos papéis do colega gripado está anotado ao lado do nome de Fernando Sabino: 

"Cobrir lançamento na Livraria do Globo,"

e abaixo: "Hotel ???"

Naquele momento, lembrei da "sorte de principiante" da qual se fala na profissão. Ou seria um santo protetor dos jornalistas que estava olhando por mim? Encontro um telefone disponível e ligo para os hotéis da cidade, pedindo pela lista de hóspedes. Na hora me senti como um jornalista de verdade, anunciando ao telefone:

"- Aqui é do jornal A Hora e preciso de uma informação".

É preciso registrar aqui como foi a repercussão do lançamento de  A Hora em Porto Alegre. Na banca da Praça da Alfândega, as pessoas se aglomeravam para ler as manchetes coloridas da capa e o jornal vendia como pão quente. 

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Foi então que o terceiro telefonema deu retorno: o porteiro do City Hotel confirmava que havia um F. Sabino entre os hóspedes recém chegados. Deixei um recado, que a reportagem do mais importante jornal da cidade estava indo fazer uma reportagem. Meia hora depois, lá estava eu meio atarantado no lobby do City Hotel. Chega uma mensagem - Fernando Sabino me aguardava no bar do primeiro andar. 

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