Era para ser meus 15 minutos de fama

Por Flávio Dutra

A cena se repete a cada semana no supermercado. Lá estou entre as gôndolas, garimpando as melhores ofertas, quando sou interrompido por outro cliente, normalmente senhores de meia idade ou mais.

- Flávio Dutra, tudo bem? Te assisti esta semana no programa do Reche.

Dou a máxima atenção ao interpelador e até prometo citar o nome no próximo programa. Ele logo se apresenta como gremista ou colorado e, enquanto eu fico me achando por ter sido reconhecido, o sujeito se desmancha em elogios ao Reche.

- Gosto muito dele. É um cara bacana, bem informado e que só diz verdades. Fala que eu sou fã dele.

Essa seria uma síntese dos elogios mais frequentes ao Luiz Carlos Reche, comandante do programa Cadeira Cativa na Ulbra TV.  Eu deveria ficar melindrado pela preterição nos elogios, naqueles poucos minutos de fama, ainda mais pela concorrência desigual do guri que apoiei no início de carreira na Rádio Guaíba, agora um consagrado comentarista esportivo. Relevo, porém, a desconsideração do fã, mesmo que me faça de garoto de recados,  porque sei qual é o meu papel quando participo dos programas esportivos, mero convidado identificado como representante gremista. Isso ocorre também no Dupla em Debate, na Rádio Grenal, conduzido pelo Flávio Dal Pizzol, programa que voltei a frequentar. 

Já fui assíduo em outros espaços esportivos e suspeito que sou convidado não pela clareza das minhas ideias ou pela força dos meus argumentos, mas para preencher um vazio na bancada diante de alguma desistência. Parece que estou vendo o Reche e o Dal Pizzol dizerem para os produtores:

- Chama o Flávio Dutra que ele vem.

Brincadeirinha, queridos amigos Reche e Dal Pizzol. Só peço que não me tomem por vaidoso por aceitar os convites e sem desfazer das janelas que me proporcionam, gostaria mesmo é de ser interpelado por leitores fiéis e elogiosos das minhas crônicas e dos meus livros. Esse tipo de interação, porém, dificilmente ocorre, o que me frustra mais do que os fãs do Reche me pedindo para dar recados a ele. 

Eis que recebo uma mensagem pelo Whats. 

- Aqui é o Bruno. Poderia participar do Cadeira Cativa hoje? 

- Claro, confirmo a presença.

E lá vou eu pra Ulbra em Canoas, tentando lembrar o nome do gremista que prometi citar no programa. Bah, esqueci de anotar o nome e a memória me traiu. 

Autor
Flávio Dutra, porto-alegrense desde 1950, é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com especialização em Jornalismo Empresarial e Comunicação Digital. Em mais de 40 anos de carreira, atuou nos principais jornais e veículos eletrônicos do Rio Grande do Sul e em campanhas políticas. Coordenou coberturas jornalísticas nacionais e internacionais, especialmente na área esportiva, da qual participou por mais de 25 anos. Presidiu a Fundação Cultural Piratini (TVE e FM Cultura), foi secretário de Comunicação do Governo do Estado e da Prefeitura de Porto Alegre, superintendente de Comunicação e Cultura da Assembleia Legislativa do RS e assessor no Senado. Autor dos livros 'Crônicas da Mesa ao Lado', 'A Maldição de Eros e outras histórias', 'Quando eu Fiz 69' e 'Agora Já Posso Revelar', integrou a coletânea 'DezMiolados' e 'Todos Por Um' e foi coautor com Indaiá Dillenburg de 'Dueto - a dois é sempre melhor', de 'Confraria 1523 - uma história de parceria e bom humor' e de 'G.E.Tupi - sonhos de guri e outras histórias de Petrópolis'. E-mail para contato: [email protected]

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