Era uma vez...

Por José Antônio Moraes de Oliveira

Existe um velho provérbio ensinando que as palavras são levadas pelo vento - e esquecidas. Acontece quando somos obrigados a ouvir longos monólogos de uma pessoa desinteressante ou em uma aula rotineira de um professor que desistiu de ensinar. Para o escritor Mark Twain, são palavras soltas, sem dono nem destino. Que, ao mesmo tempo, dizia que determinadas frases e palavras ficam cristalizadas em nossa memória afetiva, embora adormecidas pela maior parte do tempo. Ele fala do que ouvimos do pai e da mãe na infância, mas que só lembramos quando é muito tarde.

***

Alguns pensadores modernos escreveram sobre as lições de vida que, ao longo do tempo, os pais tentam repassar aos filhos - nem sempre com sucesso. Os mais antigos gostavam de exemplos de castigos bíblicos ou ameaçavam com bichos-papões e diabinhos malvados. Um folclore inesgotável de sabedoria humana, com altas doses de imaginação. Tema explorado em contos e novelas, como em Gilbert Keith Chesterton, Cormac McCarthy ou Robert Fulghum. Eles nos advertem que crianças costumam adquirir suas próprias verdades, mesmo sem saber o que fazer com elas. Mark Twain dizia o mesmo em um aforismo:

"- Não precisamos dizer às crianças que existem dragões.

Elas já sabem disso. O que elas precisam aprender é que os dragões são vencidos pelos heróis."

***

Não é de hoje que os mais novos pensam que sabem mais do que os seus velhos. O resultado é que raramente dão valor às pequenas pérolas que lhes são oferecidas nas aulas do dia a dia. Cansados, os pais recorrem à ironia e sarcasmo para economizar as palavras. Quando a paciência chega ao fim, vem a sentença:

"Vai ser assim porque eu disse e ponto final".

Ou a advertência assustadora:

"Se caires da escada e quebrar o pescoço, vais perder a festa de sábado."

Às vezes, existe uma escolha:

"Se continuar choramingando, vou te dar um motivo para chorar de verdade."

As mães sabem prever o futuro:

"- Espera só até chegarmos em casa."

Outras esperam pelo impossível:

"- Feche a boca e tome sua sopa."

Ou tentam lições de genética:

"- Deste jeito, quando cresceres vais ficar igual ao teu pai."

E as que confiam em milagres:

"- Não saio daqui até que este espinafre desapareça do prato."

Ou invocam Peter Pan:

"- Se não comeres vegetais, nunca vais crescer."

***

Já o norte-americano Robert Fulghum é mais otimista, oferecendo fábulas de otimismo:

"- Somos todos um pouco estranhos. A vida é muito estranha. Assim, quando encontramos alguém cuja estranheza é compatível com a nossa, vamos nos juntar e permanecer nessa esquisitice mutuamente satisfatória, a que chamamos de amor."

***

Voltando à Mark Twain - ele acreditava que, de tudo que ouvimos do pai e da mãe, existe algo que jamais desvanece, guardado entre as mais profundas lembranças - palavras sussurradas que começam assim:

"- Era uma vez..."

***

Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

Comentários