Feminicídios seguem em alta no Estado
Por Márcia Martins

Não quero mais chorar mortes anunciadas de mulheres de todas as etnias e idades. Não gostaria de usar este espaço para escrever somente sobre temas ásperos e trazer aqui na coluna dados assustadores de violência contra nós mulheres. Não fico feliz de retomar assuntos já tratados em publicações anteriores. Mas, infelizmente (e eu sigo perguntando até quando?), os números de casos de feminicídios no Rio Grande do Sul seguem em ascensão. E, por isso, todos os dias quando uma notícia de feminicídio é anunciada na mídia, não consigo segurar as lágrimas de tristeza.
Porque é mais uma mulher que foi morta, na maioria dos casos (conforme as estatísticas atestam) pelo ex-marido, companheiro ou namorado que não aceitou o fim do relacionamento. Porque é mais uma mulher que foi assassinada num cenário cruel de violência doméstica. Porque é mais uma mulher que sofreu as consequências de quem tem aversão ao gênero feminino. Porque é mais uma vítima do desrespeito, da discriminação, da ausência total do pleno direito.
Segundo o balanço mensal divulgado pela Secretaria de Segurança Pública do RGS, anunciado na quinta-feira (11 de setembro), o Estado registrou 54 feminicídios de janeiro a agosto deste ano, enquanto no mesmo período do ano passado o número foi de 40 casos (um crescimento aproximado de 35%). A Associação dos Delegados de Polícia do Rio Grande do Sul (Asdep), ao comentar a notícia para o Correio do Povo enfatiza que 85% dos feminicídios em 2025 tiveram como autores companheiros ou ex-companheiros, 58% com antecedentes criminais, 77% dos casos ocorreram na casa das mulheres.
Os números seguem preocupando. Dos feminicídios registrados esse ano, 25% tinham registro na polícia de violência doméstica e em 8% dos casos, as vítimas tinham Medida Protetiva. E metade dos crimes de feminicídios foram cometidos com armas brancas (49%). Importante destacar que nem todos os feminicídios realizados entram nas estatísticas.
Na tarde desta quarta-feira (24 de setembro), o governador Eduardo Leite sancionou a lei que criou a Secretaria de Políticas para as Mulheres, depois de uma década sem a existência do órgão. É um passo importante voltado à promoção dos direitos das mulheres e à proteção contra a violência. Mas é preciso que a autarquia tenha recursos suficientes, que tenha orçamento e que seu funcionamento saia do papel.
Além disso, é urgente a criação de mais delegacias especializadas e que realmente estejam abertas 24 horas, inclusive finais de semana e feriados. Temos hoje apenas 23 delegacias especializadas para 497 municípios. Como escrevi em outras colunas sobre o tema, é essencial que a mulher tenha uma rede de apoio, a implementação de políticas públicas efetivas, mais Casas de Referência, vagas em creches e programas de geração de renda.
Por enquanto, mais uma vez, eu imploro: parem de nos matar!