Goal!
Por José Antônio Moraes de Oliveira
"O passado é indestrutível.
Cedo ou tarde, ele vai retornar".
Jorge Luiz Borges.
Lembro do pai chegando em casa, o rosto afogueado, o brilho dos olhos e as chuteiras cobertas de barro. Estava feliz com seu programa de domingo - o jogo de fussball na várzea do Prado e a esticada no Bar Lilliput para rodadas de Steinhäger e de canecas de cerveja Bock. Ele e os amigos alemães não podiam advinhar que daquelas peladas de várzea nasceria um esporte que apaixonaria multidões.
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Os remadores do Clube Barroso deixaram as regatas nas águas geladas do Guaíba e adotaram um novo esporte que chegava ao Sul. Nas manhãs de domingo, com frio ou calor, eles se divertiam chutando bola e canelas em jogos sem juiz e sem torcida. Em casa, o pai guardava seus troféus oxidados e fotos amareladas, onde os players faziam pose em suas jerseys de mangas longas.
Então, os anos correram rápido. Os remadores cederam seus lugares aos torcedores das corridas de cavalos do novo Jockey Club. O tempo continuou fluindo e Porto Alegre se tranformou, cavalos e torcedores migraram para o Cristal e os trilhos de aço, por onde corriam os bondes, estão cobertos pelo asfalto da modernidade. Por felicidade, alguns dos casarões franceses ainda resistem aqui e ali. Silenciosos e eloquentes de uma época quando não se tinha pressa. As pessoas sorriam, os homens tiravam o chapéu ao dar Bom Dia, ao qual as moças de braços dados não se permitiam responder.
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Da janela do hotel a paisagem é um vasto parque arborizado, por onde desfilam babás de branco, carrinhos de bebês e jovens fazendo jogging. Minha imaginação viaja e parte de mim está de volta à várzea, onde aquela brava gente continua correndo atrás da bola de tentos Cauduro, festejando os goals e as defesas do goalkeeper.
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