Golpe de Estado anônimo

Por Márcia Martins

Quem assistiu aos dois primeiros dias do julgamento dos oito acusados de planejar a tentativa do golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023, que ocorre na 1ª Turma do STF, deve ter ficado quase com um pouco de pena dos réus. E até um tanto indignado com a postura do ministro relator, Alexandre de Moraes, tão questionador nos interrogatórios que resultaram no processo. Qual a necessidade de tantas perguntas, chegou a indagar o advogado de defesa do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno. Ora, para quê encher de perguntas, não é mesmo?

Só que não #sqn. É claro que não fiquei com pena dos oito acusados e nem mesmo considero que Alexandre de Moraes tenha se excedido nas suas indagações para formar o processo. Porque jamais irei esquecer aqueles que pretendiam destruir nossa democracia. Não me sairá da memória aquele segundo domingo de janeiro, quando fanáticos, bandidos, baderneiros e insanos tentaram arranhar a democracia, tão duramente conquistada, ao invadir os prédios do Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal.

Protagonizadas por bolsonaristas radicais, transportados até a capital federal em ônibus financiados por quem detém o poder econômico e políticos inconformados com o resultado da eleição do presidente Lula, as cenas chocaram pela quantidade de crimes cometidos em uma única tarde, pelo desrespeito à democracia e até então pela certeza da impunidade. Quebraram vidraças, arrancaram portas, danificaram obras de arte, invadiram prédios públicos.

Pois, segundo os primeiros advogados de defesa de alguns dos acusados, eles não fizeram absolutamente nada. Todos inocentes. Até conheciam algumas intenções de executar o golpe de estado, mas como ele não ocorreu (ufa), a defesa insiste que eles devem sair impunes. Se o golpe de estado tivesse êxito, com certeza, tal julgamento não estaria acontecendo. E sabe-se lá como estaria o cenário do Brasil neste momento. Para os advogados, deverá prevalecer a tesa da intenção não executada.

Ao final destes cinco dias de julgamento, divididos em duas semanas, a justiça seja feita e que os oito acusados da articulação do golpe de estado recebam penas exemplares. Até 12 de setembro, data em que os magistrados do STF deverão anunciar o veredito, viverei na expectativa. E, como já disse nas minhas redes sociais, e reitero: não me comove o pranto de quem é ruim. Punição aos culpados para que mais ninguém, insatisfeito com o resultado de alguma eleição, sinta-se incentivado a planejar algo semelhante.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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