Imagem arranhada por projeto absurdo

Por Renato Dornelles

Depois de ser submetida a um grande vexame nacional, Porto Alegre tem sua imagem parcialmente recuperada pelo Plenário da Câmara de Vereadores, que revogou a absurda lei, de autoria do ex-vereador Alexandre Bobadra (cassado por abuso do poder político), do PL, que estabelecia na cidade o dia 8 de janeiro como o "Dia do Patriota".

Todos recordam que o dia 8 de janeiro está marcado na história do País como a vergonhosa data em que milhares de pessoas, inconformadas com o resultado da eleição presidencial, invadiram os prédios dos Três Poderes, em Brasília, causando sérios danos ao patrimônio público, à ordem pública e ao Estado de Direito. Diante destes fatos, que resultaram em 1,4 mil prisões por crimes diversos e centenas de processos, seria uma insanidade a capital gaúcha, palco de tantos acontecimentos importantes na história do País, relacioná-los a um suposto patriotismo. Baderna, tentativa de golpe e ataque à democracia são as definições mais adequadas a este dia.

É importante destacar que o projeto de Bobadra não passou pelo plenário do Legislativo. Foi submetido a comissões e entregue ao Executivo, que tinha como opções sancionar, vetar ou não se manifestar. Ou seja, se omitir. A opção escolhida lamentavelmente foi esta última.

Para piorar, uma nota emitida pela prefeitura equiparou o projeto da "Lei do Patriota" ao de autoria do vereador Aldaci Oliboni (PT), que estabeleceu anteriormente a mesma data como "Dia em Defesa da Democracia", que também não teve manifestação do Executivo. "Defesa da Democracia" é papel de todos, independentemente de ideologia, desde que contrários a ditaduras. Os atos de 8 de janeiro significaram justamente o contrário, e nada de patriotismo.

Com um projeto da vereadora Karen Santos (PSOL), sem cunho ideológico, mas em busca do resgate da imagem da cidade e da luta por democracia, foi revogado o projeto de Bobadra com votos de 31 dos vereadores presentes (Jessé Sangalli, do Cidadania, se absteve). Ainda assim, houve revogação por parte do ministro Luiz Fux, no Supremo Tribunal Federal, a pedido da Procuradoria Geral da República, o que demonstra que a imagem de Porto Alegre não superou todos os arranhões.

Autor
Jornalista, escritor, roteirista, produtor, sócio-diretor da editora/produtora Falange Produções, é formado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) (1986), com especialização em Cinema e Linguagem Audiovisual pela Universidade Estácio de Sá (2021). No Jornalismo, durante 33 anos atuou como repórter, editor e colunista, tendo recebido cerca de 40 prêmios. No Audiovisual, nos últimos 10 anos atuou em funções de codireção, roteiro e produção. Codirigiu e roteirizou os premiados documentários em longa-metragem 'Central - O Poder das Facções no Maior Presídio do Brasil' e 'Olha Pra Elas', e as séries de TV documentais 'Retratos do Cárcere' e 'Violadas e Segregadas'. Na Literatura, é autor dos livros 'Falange Gaúcha', 'A Cor da Esperança' e, em parceria com Tatiana Sager, 'Paz nas Prisões, Guerra nas Ruas'. E-mail para contato: [email protected]

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