Impossível debater com radicais incoerentes

Por Renato Dornelles

Uma grande dificuldade que sempre tive na vida foi debater com pessoas radicais. E admito, em uma espécie de minha culpa, que já tive fase radical na minha adolescência. Lembrando e analisando como eu era, me vem à mente uma pessoa que claramente achava que tudo que contrariava sua maneira de pensar não prestava. Somente eu e os que compartilhavam de pensamentos semelhantes éramos certos.

Pois hoje, mais do que nunca nesses meus 61 anos, vejo um Brasil infestados de radicais. São pessoas que ofendem, xingam, discutem e, como se viu nestes últimos anos, algumas até matam quem delas discordam.

E vejo muito incentivo vindo da classe política. Por mais que não seja a intenção, quando algum ou alguma parlamentar afirma publicamente que se for visto ou vista na companhia de um adversário ideológico, "pode apartar que é briga", está pregando a seus eleitores que os que pensam diferente são inimigos e não apenas opositores. E isso, esporadicamente, tem gerado situações de violência, até extrema, nas discussões políticas, em atos praticados por autointitulados "cidadãos de bem".

Outro grave problema do radicalismo é a incoerência. O radical, para tentar empurrar seus pontos de vista (se é que assim podem ser chamados) lança mão de qualquer meio, não mede consequências e muitas vezes despreza por completo a coerência. Lembrei disso agora, quando vi, nas comemorações da INDEPENDÊNCIA do Brasil, autointitulados patriotas abrirem uma bandeira gigante dos Estados Unidos. Aliás, a maior bandeira da manifestação.

Também é difícil debater com pessoas que se autointitulam democráticas e que acusam seus alvos de tirania saírem às ruas pedindo a volta da ditadura implantada em 1964. Realmente é difícil. 

Mas pudera: São pessoas que têm como líder máximo alguém que já defendeu a tortura em prisões degradadas e que sempre atacou organismos defensores de Direitos Humanos. Pois esse influente político agora se vê vítima de violações e invoca Direitos Humanos por estar sendo processado e preventivamente sob prisão domiciliar em um condomínio de luxo.

Autor
Jornalista, escritor, roteirista, produtor, sócio-diretor da editora/produtora Falange Produções, é formado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) (1986), com especialização em Cinema e Linguagem Audiovisual pela Universidade Estácio de Sá (2021). No Jornalismo, durante 33 anos atuou como repórter, editor e colunista, tendo recebido cerca de 40 prêmios. No Audiovisual, nos últimos 10 anos atuou em funções de codireção, roteiro e produção. Codirigiu e roteirizou os premiados documentários em longa-metragem 'Central - O Poder das Facções no Maior Presídio do Brasil' e 'Olha Pra Elas', e as séries de TV documentais 'Retratos do Cárcere' e 'Violadas e Segregadas'. Na Literatura, é autor dos livros 'Falange Gaúcha', 'A Cor da Esperança' e, em parceria com Tatiana Sager, 'Paz nas Prisões, Guerra nas Ruas'. E-mail para contato: [email protected]

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