IN FORMA

Por Marino Boeira

Depois de muitas décadas de um grande marasmo na vida política brasileira (o último grande movimento nessa área foi a luta fracassada pelas Diretas Já, em 1983 e 84), está surgindo uma nova proposta revolucionária liderado por um professor universitário de Santa Catarina - Nildo Ouriques, de 64 anos, a Revolução Brasileira.

O professor, que atua na área de Economia, na Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), é um dos principais dirigentes do IELA - Instituto de Estudos Latino Americanos da Ufsc e ainda oficialmente filiado ao PSOL, embora divergente das posições oficiais do partido.

O professor Nildo Ouriques tem realizado suas propostas políticas através das redes sociais, de sites alternativos, de cursos e conferências para sindicatos e grupos de estudantes de todo o Brasil e por enquanto é solenemente ignorado pela grande mídia e pelos partidos.

Certamente, essa conspiração de silêncio não vai durar para sempre. Todos os movimentos, que em algum momento agitaram a vida política do país - como a citada Diretas Já - surgiram pequenos (no caso uma proposta do senador Teotônio Vilela) e logo se expandiram.

As bandeiras de uma revolução brasileira, anti-imperialista e de conquista de uma sociedade socialista, tiveram seu ápice entre 61 e 64, liderada principalmente por Leonel Brizola, que após o enfrentamento dos militares em 1961 com o Movimento pela Legalidade, foram arriadas com o golpe de primeiro de abril de 1964. Seu canto de cisne foi o famoso comício da Central do Brasil em 13 de março de 64, quando o presidente João Goulart, empurrado pelos movimentos populares, liderados principalmente por Brizola e Miguel Arraes, declarou seu apoio às Reformas de Base, há muito gestadas pela esquerda brasileira.

Depois disso, o Brasil submergiu num longo período ditatorial de 21 anos, mas que mesmo assim não apagou totalmente a chama das revoltas populares. Foi quando surgiu o movimento pelas Diretas Já, mais uma vez derrotado pela aliança entre os militares que queriam abandonar um governo já falido e as forças da esquerda liberal, que negociaram a eleição pelo Congresso de Tancredo Neves. Com sua morte e a eleição de José Sarney, se consolida no Brasil o domínio de uma classe política oposta às reivindicações populares mais radicais, primeiro com Fernando Collor, depois Fernando Henrique Cardoso e mais tarde com os governos do PT, de Temer, Bolsonaro, para voltar agora ao PT.

O que o professor Nildo Ouriques pretende romper agora é esse ciclo, onde, em alguns momentos mais e em outros menos, se fez uma política que sempre buscou consolidar os ganhos da alta burguesia, dos bancos e do latifúndio.

Em suas intervenções, usando uma linguagem que lembra muito as pregações de Brizola, ele defende uma pauta radical de atuação popular em várias áreas.

Na economia: uma reforma agrária radical, que acabe com a política seguida por todos os governos, inclusive os do PT, que só fizeram concentrar em poucas mãos o controle da terra; o  fim da política de exportação de bens primários e retomada do controle dos bancos através do Banco Central.

Na questão vital do petróleo: nacionalização total da Petrobrás, que podemos sintetizar em dois bordões: Nenhum dólar na Petrobras; o Petróleo é nosso.

Na educação: fim dos vestibulares (o que já acontece na Argentina, Cuba e México) abrindo as portas da universidade para todos os estudantes e liquidando os grandes negócios privados nessa área.

Na política externa: uma atuação realmente independente e de denúncia do imperialismo.

Enfim, o professor Nildo Ouriques está fazendo o que há muito falta para o Brasil, uma discussão com propostas radicais para resolver seus problemas históricos.

A conspiração de silêncio para evitar que suas propostas sejam ao menos ouvidas e discutidas, já começa a ser rompida e isso é ótimo para o Brasil e os brasileiros.

Falar e discutir nunca fez mal para ninguém.

Baixar a cabeça e obedecer, isso sim, sempre fez mal.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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