IN FORMA

Por Marino Boeira

A coroação do Charles como rei do Reino Unido foi um festival internacional de breguice e cafonice, começando pelos trajes do novo rei e dos seus acompanhantes, que mais pareceu um desfile das escolas de samba na Marquês do Sapucaí.

O chamado Reino Unido, fundamentalmente, a Inglaterra, é cada vez mais uma potência de segunda linha e só pode mesmo viver do seu passado, nada glorioso.

Durante séculosm comandou o tráfico de escravos no mundo, levando milhões de negros da África para o cativeiro na América. Na Ásia, exploraram economicamente, durante anos, a China e a Índia, entre tantos outros países desse continente.

Lembrança da presença inglesa em Xangai era o aviso colocado numa praça da cidade: "Proibida a entrada de cachorros e chineses".

Na América, expulsos dos Estados Unidos pelos seus antigos colonos, se dedicaram a manipular os governos da América Central e do Sul. Na chamada Guerra do Paraguai, armaram brasileiros, argentinos e uruguaios, da chamada Tríplice Aliança, para destruir a pretensão do Paraguai de ter uma economia não submissa aos interesses ingleses.

Quando da independência do Brasil, serviram de intermediários com Portugal, para que Lisboa aceitasse nossa independência. Mas como nunca fizeram nada de graça, emprestaram 2 milhões de libras esterlinas para que o Brasil pagasse de indenização a Portugal e nunca esqueceram depois de cobrar a dívida com juros e correção monetária.

O último feito guerreiro dessa nação de bucaneiros foi fazer guerra contra a Argentina, pelas Malvinas, uma pequena ilha a milhares de quilômetros da Europa.

O que se esperava das nações ofendidas e humilhadas durante séculos pela Inglaterra, quando ela montou essa pantomima que foi a coroação de um rei, num mundo quase todo republicano, é que elas virassem as costas solenemente para esse triste espetáculo.

Infelizmente, o Brasil foi um dos países que mais deu importância a esse evento, com o seu presidente, Lula da Silva, e sua mulher, a Janja, pontificando como os mais fiéis admiradores do tal rei.

Não bastasse a presença física do casal nas solenidades oficiais, a dupla brasileira promoveu um festival de aparições para a mídia, com a primeira dama desfilando os modelos mais exóticos de vestidos e acessórios de marca.

A grande cobertura dada por uma mídia nacional, deslumbrada pela apresentação das relíquias de um império decadente e pelo exibicionismo dos participantes, principalmente os nossos representantes, serviu mais uma vez para que os brasileiros esquecessem que o salário mínimo subiu apenas 18 reais, que todos os preços continuem subindo nos supermercados e que a crise no Brasil nunca foi tão grande.

Enfim, sobrou um troco de 500 milhões de reais que a Inglaterra destinou para o tal Fundo Amazônico, uma migalha diante de tudo que há século ela nos rouba e a tristeza de ver pessoas, aparentemente bem informadas, saudando a presença do Lula nesse carnaval fora de época.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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