IN FORMA
Por Marino Boeira
A CADEIRADA COMO ARGUMENTO POLÍTICO
O acontecimento "político" da semana foi a cadeirada que José Luiz Datena, candidato à prefeitura de São Paulo deu no seu opositor Pablo Marçal, durante um debate ao vivo na TV Cultura, mostrando que uma tênue linha separa os argumentos verbais dos atos físicos na atual campanha eleitoral paulistana.
Como nenhum dos candidatos demonstrou um nível cultural razoável é de se supor que, ao usarem palavras de baixo calão e até agressões físicas, eles não se dessem conta que mais de 100 anos depois, eles estavam confirmando a conhecida (não por eles) afirmação do prussiano Carl Von Clausewitz (1791/1831) de que "A guerra é a continuação da política por outros meios". Clausewitz justificava com sua teoria o direito dos países mais poderosos usarem a guerra para suas conquistas justificando o que Bismarck faria depois na guerra Franco-Prussiana de 1870.
A cadeirada de Datena no domingo foi apenas mais um episódio no festival de baixarias que se transformou a eleição de São Paulo. Na terça-feira na TV UOL eles estavam reunidos novamente para repetir o que fizeram no domingo, a exceção da cadeirada, porque dessa vez os promotores do debate trataram de fixar as cadeiras no solo.
Mais do que episódios lamentáveis o que ocorreu no debate paulista é uma demonstração do rebaixamento total da discussão política no Brasil. Boulos, Nunes , Marçal e Datena reproduzem apenas a miséria moral a que chegaram as lideranças ditas políticas no país.
No caso paulista temos reproduzida nos debates a farsa de uma grande divisão em que vive o país entre os seguidores de Lula e os do Bolsonaro. Como os dois representam visões políticas, que mesmo se dizendo opostas, buscam o mesmo fim - a defesa dos interesses das classes dominantes e a manutenção do atual quadro social, político e econômico - só restam a eles tentar desqualificar o adversário por suas ações pessoais. Assim sobram nos debates os adjetivos: ladrão, corrupto, traficante, até estuprador.
No meio desse festival de agressões e ofensas, completando o quadro duas vestais - Tábata Amaral e Marina Helena - a primeira cria do Instituo Lehman e a segunda, como todos os quadros do Novo, uma admiradora do governador Zema de Minas Gerias - se dizendo horrorizadas com o que ouvem, mas certamente felizes por se posicionarem como diferentes, imaginando com isso faturar alguns votos.
São Paulo é a situação extrema, mas a pobreza nos debates eleitorais é uma regra seguida em todas as capitais. Porto Alegre, que no passado, independentemente de suas posições políticas, teve candidatos à Prefeitura capazes de discutir ideologias e posicionamentos políticos, segue a pobreza franciscana do resto do país.
O grande tema é que não foi feito e o que pretendem fazer os candidatos para que Porto Alegre nunca mais sofra com as enchentes. Fora isso, nós cidadãos que nos pretendemos adultos e civilizados, são tratados como crianças que precisam de cuidados. A candidata Maria do Rosário, reproduz a todo instante, aquela bobagem que o Lula gosta de usar: "Vou cuidar das pessoas".
Ainda não chegamos em Porto Alegre ao argumento definitivo da cadeirada, mas quem sabe ele ainda surja para tornar pior o que já é ruim.