In forma (27/08/2025)

Por Marino Boeira

A HISTÓRIA NA MÃO

Uma vez, com sua verve característica, Leonel Brizola definiu o PT como sendo a UDN de macacão. Para quem não sabe ou não se lembra, a UDN (União Democrática Nacional) dividiu até o golpe militar de 1964 a representação das classes dominantes do Brasil com o PSD (Partido Social Democrático).

Enquanto o PSD defendia mais diretamente os interesses da burguesia agrária, a UDN representava os interesses da nova burguesia urbana dos banqueiros e grandes empresários e tinha nos Estados Unidos seu modelo de país. Os dois partidos defendiam, pelo menos nos seus nomes, a democracia formal, mas logo apoiaram totalmente o golpe de 64.

Sobravam para a oposição fundamentalmente dois partidos: o PCB, o partido comunista de Luiz Carlos Prestes e PTB, o partido trabalhista de Getúlio Vargas e depois João Goulart e Leonel Brizola. O golpe militar de 1964, com seus atos institucionais, extinguiu esses partidos e mais uma meia dúzia de pequenas instituições partidárias, quase todas com atuação apenas regional, algumas até com uma história importante de vida como o Partido Libertador (o PL) no Rio Grande do Sul. Em seu lugar foram impostos dois partidos para manter o simulacro de vida parlamentar: a ARENA (Ação Renovadora Nacional) e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro). O primeiro defenderia os interesses do governo militar e o segundo, uma oposição consentida para aparentar alguma coisa que lembrasse a democracia.

Com a ditadura militar se aproximando do seu fim, foi extinto o bi-partidarimo em 1979, com a formação de novos partidos num processo que durou alguns anos. Os primeiros a se formarem foram o PMDB (que depois voltaria a ser apenas MDB) o PT, em 1980 e mais adiante o PSDB, PDT, PTB, o Partidos Comunista e o PFL entre outros.  O PT se tornaria depois o mais influente partido político no País, tendo como base integrantes do movimento sindicalista do ABC paulista, lideranças religiosas ligadas à Teologia da Libertação, egressos da luta armada contra a ditadura e intelectuais, nasceu em 1980, tendo a figura de Luís Inácio Lula da Silva como seu fundador e grande líder.

Ao contrário dos demais partidos que se apresentavam como defensores dos trabalhadores, principalmente o Partido Comunista e o Partido Trabalhista Brasileiro, esse apenas por alguns dos seus líderes e que viam a luta sindical como uma etapa de um processo político maior que levaria ao socialismo no seu final, o PT se caracterizou desde seu início como um partido não revolucionário.

Sua proposta era o das lutas sindicais dentro dos marcos da ordem burguesa e que trouxessem melhorias cada vez maiores para os trabalhadores na busca de um hipotético estado de bem estar social, algo que levasse o Brasil, com o tempo a viver um tipo de sociedade escandinava.

Não foi por acaso, que as classes dominantes do Brasil, através da mídia (vide as edições da revista  Veja a mais importante da época) saudasse o metalúrgico Lula como um exemplo de um novo sindicalismo de resultados em oposição aos antigos líderes trabalhistas, apontados como "pelegos", mas que apesar disso tinham promovido muitas greves por motivações políticas e não apenas salariais,

O PT e suas lideranças, principalmente Lula da Silva em seus três mandatos, mesmo defendendo formalmente os interesses dos trabalhadores e que por isso tenham sido combatidos e criticados pela direita mais radical, fundamentalmente se transformaram num entrave para a conscientização dos trabalhadores ao seu direito histórico de defender e lutar pela revolução brasileira anti-imperialista e socialista.

Hoje mais uma vez no governo, Lula e seu partido, o PT, mesmo que por razões eleitorais se contraponham à extrema direita e seu representante máximo, Jair Bolsonaro, são as grandes fontes da alienação política da classe operária, que como ensinou Karl Marx, acaba assumindo a ideologia da classe dominante.

O papel de quem ainda sonha com um Brasil socialista é de combater a direita golpista de Jair Bolsonaro e a esquerda liberal de Lula.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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