Lágrimas derramadas pela morte do cão Joca

Por Márcia Martins

Quem me conhece, ainda que minimamente ou acompanha as colunas que publico aqui no portal Coletiva, sabe da minha enorme paixão pelos cachorros. Desde pequena, lá na casa da rua Doutor Mário Totta, na Zona Sul, quando esta não era tão habitada, tive vários cães, quase todos da famosa raça vira-latas, com pequenas exceções para dois representantes da raça fox. Depois de bem adulta, já separada e morando sozinha num apartamento com a minha filha, tivemos o Shih Tzu Dalai, o Cocker Ghandi e o vira-lata Ravi. Por implicância dos vizinhos, foi necessário, em julho de 2011, mandar o Ghandi e o Ravi para a casa do meu pai.

Com o Dalai reinando absoluto no apartamento, fermentamos ainda mais a nossa idolatria pelo Shih Tzu, o primeiro a chegar em fevereiro de 2008, tão pequeno que cabia dentro de uma caixa de sapato e tão carinhoso que já nos primeiros dias dividia seu carinho comigo e a Gabriela em doses iguais. Dalai era um cão único, especial, comportamento exemplar, companheiro e que realizou poucas travessuras quando filhote. Aprendeu com facilidade tudo que foi preciso para viver no apartamento. Tinha seus cantos prediletos, seus brinquedos surrados (queria os mais velhos sempre) e jamais reclamava de absolutamente nada.

Quando o Dalai morreu, em novembro de 2017, após dois meses de uma doença inexplicável, entrei numa depressão profunda. Uma tristeza insuperável. Uma dor enorme. Uma sensação de vazio pelo apartamento. E um aprisionamento forçado dentro de casa. Para não ter que voltar sem ouvir seus latidos de euforia. E para não sofrer mais (pelo menos o sofrimento que imaginei poder controlar), jurei que não teria mais nenhum cachorro. Até que em fevereiro de 2018, num passeio despretensioso com a filha pela Redenção, fomos fisgadas por aquele cão de cor diferente, orelhas grandes e um olhar de pidão.

E adotamos o Quincas Fernando, de comportamento totalmente diferente do Dalai e que nas primeiras noites no apartamento que ainda dividia com a minha filha exigia sempre a presença de uma das duas ao seu lado para dormir. Com o casamento da Gabriela - e como nenhuma de nós duas admitia deixar o cão - Quincas Fernando vive em guarda compartilhada. Dividimos o cuidado do canino, sem nada formalizado, apenas conforme as nossas necessidades. Mas, sinto a minha rotina bem estranha e sem graça quando não é o meu período de ficar com o Quincas. Parece que a vida está incompleta.

Pelo amor devotado a todos os cães que tive, consigo dimensionar a dor do tutor do cachorro Joca (4 anos), que faleceu por irresponsabilidade da empresa Gol Linhas Aéreas. O cão da raça Golden Retriever deveria ir de Guarulhos (SP) até Sinop (MT), local onde seu tutor, João Fantazzini, lhe esperava. Por uma falha no transporte aéreo, ele foi parar em Fortaleza. Ao constatar o erro no destino, a Gol mandou Joca de volta para Guarulhos. O cão chegou morto. A mãe de João, foi taxativa: "Foi negligência. Mandaram de volta sem nenhuma avaliação de um veterinário. Eles mataram um Golden de 4 anos", disse.

O tutor está inconsolável. Nem poderia ser diferente. Eles se tornam parte da nossa vida e são membros da família. "O meu amor foi assassinado, minha melhor escolha, amor da minha vida", escreveu João em suas redes sociais. Não importa o resultado da sindicância da Gol. Não importa quem foi o culpado pelo erro. Não importa mais saber o que os funcionários da empresa não fizeram pelo Joca. Ele está morto. Nada trará ele de volta. E eu, solidária ao seu tutor, choro compulsivamente pela morte do cão Joca.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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