Leiferização e Cesartralização

Por Flávio Dutra

Constatação de quem já esteve no pedaço: a Globo transformou alguns de seus programas esportivos em autênticos besteiróis, com muita "criatividade" e pouco conteúdo do que interessa. Acredito que tudo começou com as ancoragens "engraçadinhas" do Thiago Leifer, que acabou fazendo escola e contaminando todo o restante. A propósito, tempos atrás acompanhei a narração, muito sóbria e didática, do Leifer naquele jogão entre Barcelona x Inter de Milão, o que me leva a conclusão de que ele deve estar arrependido do processo que deflagou na sua ex-emissora. 

Nos outros canais o que se observa é uma profusão de programas lotados de opiniáticos ex-jogadores, entre os quais o raivoso Neto, que deve ter quem goste. Até parece que a turma do Esporte atua em faixa própria, com independência, e pode tratar do que bem entender, como bem entender.  Acho mesmo que as direções de programação das emissoras partem do princípio de  que a cobertura esportiva é algo menor no hard news. Parece não haver muita preocupação com a qualificação nos conteúdos porque, no entendimento dos caciques televisivos, estes seriam direcionados para uma massa pouco exigente, mais preocupada em que sejam atendidas suas emoções de torcedor, anunciadas pelos Cavalinhos do Fantástico, que agora até ganharam outros espaços na programação.

A moda aqui nos chamados programas alternativos são profissionais revelando suas preferências clubística, espaço ocupado há mais tempo e com eficácia para o que se propõem, pelo Baldasso, o Farid e o Alex Bagé e, antes, pelos precursores  Sant'Anna e Kenny Braga.  Não vou tomar partido na briga que aparece às vezes, velada ou não, entre os profissionais das mídias tradicionais e os influencers esportivos. Acredito que está se consolidando uma nova forma de se comunicar com os aficionados do futebol, carregada de paixões sem limites e de identidade clubística às claras. Vai se sobressair e se manter quem tratar bem seu produto, independente do ativismo.  

Em nível nacional, confesso que me divirto muito com as participações, via internet, do Vampeta e suas histórias de bastidores por onde passou.  É isso: quem tiver boas histórias pra contar vai ganhar público e levar vantagem sobre quem só apresentar mais do mesmo. 

Gostaria também de dar meu pitaco sobre outro "fenômeno" que observo entre alguns âncoras da Rede Globo e que chamarei de cesartralização do noticiário. Mas fica para outra oportunidade.

Autor
Flávio Dutra, porto-alegrense desde 1950, é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com especialização em Jornalismo Empresarial e Comunicação Digital. Em mais de 40 anos de carreira, atuou nos principais jornais e veículos eletrônicos do Rio Grande do Sul e em campanhas políticas. Coordenou coberturas jornalísticas nacionais e internacionais, especialmente na área esportiva, da qual participou por mais de 25 anos. Presidiu a Fundação Cultural Piratini (TVE e FM Cultura), foi secretário de Comunicação do Governo do Estado e da Prefeitura de Porto Alegre, superintendente de Comunicação e Cultura da Assembleia Legislativa do RS e assessor no Senado. Autor dos livros 'Crônicas da Mesa ao Lado', 'A Maldição de Eros e outras histórias', 'Quando eu Fiz 69' e 'Agora Já Posso Revelar', integrou a coletânea 'DezMiolados' e 'Todos Por Um' e foi coautor com Indaiá Dillenburg de 'Dueto - a dois é sempre melhor', de 'Confraria 1523 - uma história de parceria e bom humor' e de 'G.E.Tupi - sonhos de guri e outras histórias de Petrópolis'. E-mail para contato: [email protected]

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