Mãe supercoruja de volta

Não adianta lutar contra o que se tem adubado dentro do coração. Tento resistir e diversificar os temas das colunas. Escrever sobre o campeonato …

Não adianta lutar contra o que se tem adubado dentro do coração. Tento resistir e diversificar os temas das colunas. Escrever sobre o campeonato brasileiro, os novos bebês que chegarão à minha vida em 2011, os poemas, a eleição e até a feira do livro. Mas quando me encontro exercitando os dedos no teclado do computador, volta e meia, ainda que busque, incansavelmente, controlar os assuntos, termino escrevendo sobre a minha filha, Gabriela. Porque é sempre para ela a melhor parte do meu dia, da minha noite, do meu passado, do meu presente e do futuro que ainda existirá.
Desde que ela adolesceu de fato e de direito, evito falar de temas pessoais da sua vida, como fazia no início dos meus escritos. Em parte, para preservá-la um pouco de tanta exposição nesta fase importante de sua vida, mas também porque entendo que as travessuras e descobertas de crianças rendem mais do que as inquietações adolescentes. Hoje, Gabriela é uma moça bonita, envolvente, carismática, que chama a atenção quando passa despretensiosa na rua. Tem boa saúde, alguns probleminhas mínimos no colégio e pequenos exageros de consumo inerentes à faixa etária.
Contar, em prosa, poesia ou mesa de bar, sobre as vitórias de Gabriela é, por isso, motivo de orgulho para mim. Não me cansa. E espero que não canse o meu leitor mais atento, pois é uma espécie de "vale a pena ver de novo": mãe-coruja ataca aqui no site da Coletiva.
Na sexta-feira passada, Gabriela passou a tarde conhecendo um completo grupo de comunicação em Porto Alegre. Na companhia de assessores, visitou os estúdios de rádio AM e FM, a emissora de televisão e chegou a conversar com os apresentadores de programas. Depois, encerrou o tour na redação do jornal, onde não poupou perguntas aos colunistas e jornalistas selecionados para falar com ela e outra menina, vencedoras de um concurso de frases do suplemento para jovens. E se mostrava, segundo ela, interessada em saber o que cada um fazia, em qual setor, como funcionava tal máquina e o programa e tal e tal.
Bombardeou os jornalistas com perguntas como "É melhor escrever na reportagem ou ser colunista"? "Qual a reportagem que te marcou mais"? "É possível ser imparcial"? Brincou de ser a apresentadora do tempo no estúdio de TV. Inseriu créditos fictícios num programa rural. Não queria o fim do passeio. E quando chegou em casa, pediu minha atenção e despejou tudo o que tinha visto, os lugares, as pessoas, os cenários. A noite não foi suficiente para Gabriela contar tudo. E seu relatório só foi derrotado pelo cansaço e pelos meus cafunés em seus cabelos enquanto dormia no sofá da sala.
Até a tal visita, Gabriela afirmava não saber se iria fazer vestibular para Publicidade ou Jornalismo. Dúvida cruel que lhe perseguia há pelo menos um ano. Mas passível de ser resolvida até o final de 2011, quando deverá submeter-se aos exames para a universidade. Pois, informo-lhes: tudo indica que Gabriela fará a faculdade de Jornalismo. É o consenso dela depois do passeio. Foi o consenso de alguns assessores impressionados com a curiosidade dela. Mais um motivo para o orgulho da mãe-coruja. Mais um motivo para lutar pelo diploma.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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