Minicontos da Vida: Natal, Família e Saúde mental
Por Luan Pires
Natal
Estou na sala iluminada, onde um pinheiro pisca. Ali, a avó preenche um vazio ao decorar biscoitos com açúcar e histórias antigas. O neto, distraído, desliza os dedos na tela do celular, sem perceber que a magia do Natal não está nas luzes ou nos presentes, mas no entrelaçar dos olhares que se perderam. Sei que o presente dela é o desejo de ficar mais um Natal com todos; o dele é apenas escapar para outro mundo. E eu? Só espero que se olhem antes que minha ampulheta apague a última vela.
Família
Se eu pudesse falar mais alto, diria que família não é sangue, mas quem te acolhe quando tudo está desmoronando. No silêncio da madrugada, observei Lucas chorar no quarto. A porta se abriu e, ao invés do pai que não sabia lidar com sentimentos, foi o cachorro que entrou, trazendo consolo na forma de lambidas. No outro lado da cidade, observei Maria ser adotada por um grupo de amigos ao fugir de um lar sufocante. A ironia? Muitas vezes, vocês me procuram em parentes que nem sabem seu nome completo, enquanto o abraço que salva está no outro lado da linha ou no focinho úmido.
Saúde Mental
Carrego a história de todos vocês, mas algumas se tornam mais pesadas que outras. A de Joana, por exemplo. Ela vestia um sorriso como quem tenta apagar uma fogueira com um balde furado. Seus dias eram uma maratona contra a ansiedade que gritava em seu peito. Uma manhã, na sala de espera do terapeuta, encontrou Ana, que trazia um brilho tímido de esperança. Não trocavam palavras, mas os olhares diziam: "Você também luta?" E ali, no reflexo do outro, começou a perceber que pedir ajuda era coragem, não fraqueza. Para Joana, ser viva deixou de ser peso e se tornou reconstrução. Para mim, foi só mais um recomeço que celebrei em silêncio.
Com Amor, Vida.