Não podemos ter um (dois, então, nem se fala) rebaixado

Por Rafael Cechin

As décadas de predomínio quase absoluto de paulistas e cariocas no futebol brasileiro deixaram nós gaúchos (talvez os mineiros também) com a sensação de estarmos sendo desprezados ou constantemente na "última prateleira" do futebol no país. Em 2024, apresenta-se um novo risco para nossos traumas: temos dois clubes dentro ou perto da zona de rebaixamento.

Para a gente ganhar algo, sempre precisou estar muito forte. Desde os anos de 1970 nos tornamos obstáculos para o pessoal do chamado "eixo". O problema é que isso ocorre cada vez menos. Não faturamos o Brasileirão há praticamente 30 temporadas. Não temos os melhores jogadores, tampouco os técnicos mais valorizados, o dinheiro não está aqui.
Nos últimos dias o zagueiro Vitão, do Inter, trouxe à tona uma das discussões mais antigas da rivalidade do Rio Grande do Sul contra a hegemonia de quem está ao centro no mapa. "Se o Alan Patrick estivesse jogando no eixo teria sido chamado para a Seleção", disse. Tem razão. O destaque aqui no Sul necessita ser cinco ou seis vezes maior do que no Sudeste.

As escalas (e apitos) de arbitragens, os regulamentos, assim como as decisões da CBF, também costumam pender para o lado deles, não para o nosso. Financeiramente, também sofremos, claro. Se um patrocínio vale X para a dupla Gre-Nal, é multiplicado por dois ou três em São Paulo e Rio. A exposição maior na TV, nos portais e nas redes sociais explica bem o motivo.

Mas paramos com a choradeira. Vamos ao que interessa no momento. Grêmio e Juventude entram em campo no retorno do Brasileirão pós-rodada das Eliminatórias com faca no pescoço. O tricolor está novamente ameaçado pelo rebaixamento, com desempenho que cai a cada jogo. O time da Serra vem a Porto Alegre para buscar se salvar, apesar de estar em fase complicadíssima há tempos.

O confronto direto nesta quarta (20) certamente vai dificultar muito a vida do perdedor. Em caso de empate, os dois sofrem. Antes de iniciar a 34ª rodada, a classificação mostra oito times brigando contra as duas vagas que ainda restam no Z-4. Gente grande como Corinthians, Fluminense e o próprio Grêmio estão na batalha. Tem ainda um médio, o Athletico-PR, e os menos tradicionais Vitória, Criciúma, Bragantino e o nosso Juventude.
Por incrível que possa parecer, nem os colorados deveriam torcer para que os outros dois gaúchos estivessem nessa barca. Nos diminui demais o fato de termos um rebaixado. Considerando que deveremos ter mais paulistas subindo da B para a A em 2025, o predomínio dos caras só aumentaria.

Atualmente, somos o terceiro estado com mais representantes na elite. Só atrás justamente do pessoal do centro do país. São Paulo e Rio possuem quatro cada, nós temos três. Precisamos manter assim. É o mínimo! Só assim teremos mais do que um time na parte de cima da tabela, lutando por título ou vagas importantes, ao final do campeonato nos próximos anos. Se condenados ao Z-4, estaremos perto do ostracismo. E não poderemos reclamar da sensação de desprezo em relação aos demais.

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