Não tem remédio

O tema vai ser recorente nest e já, pra mim, excessivamente longo verão: o sol inclemente, o bafão quando as nuvens fecham o céu …

O tema vai ser recorente nest e já, pra mim, excessivamente longo verão: o sol inclemente, o bafão quando as nuvens fecham o céu e só fazem fiasco com meia dúzia de pingos e minha insônia absurda , velha conhecida que não se mixa. Dormir como, com tanta doideira em volta, essa pressa por nada, o sentimento de déjà vu a cada dia , na hora de deitar (sim, pra ficar de olhos arregalados na cama!) e cumprir aqueles deveres elementares de lavar o rosto e os dentes, passar creme nos pés e nas mãos e ler. "Mas eu fiz isso há pouco!" digo pro espelho, e tenho a exata impressão de que o dia que acabou ainda nem chegou. Velhice? Loucura? Cansaço?
Fui ver Os Descendentes, saí com dor no pescoço pela tensão: sarcasmo puro, com piadas que funcionam mais pra que a platéia não estoure as veias com o peso da história lindamente interpretada. Nem sei se gostei, se não gostei, mas  como o ar condicionado do GNC do Moinhos estava tão ruim que tinha gente usando leque dentro do cinema, saí de lá quase que me arrastando.
Tem sido assim, nestes dias de dezembro, janeiro e, agora, fevereiro entrante. A irritação aumenta estupendamente e estupidamente enquanto o intelecto some sobre camadas e camadas de suor. E reclamar é o que mais dá satisfação.
Tudo é motivo: a cadeira de tecido que gruda nas pernas, o cheiro de óleo usado mais de dez vezes na fritura da casa do vizinho que vem direto pro meu nariz, a neura de colocar as chaves num lugar achável e cinco minutos depois ter de sentar na escada pra esparramar o conteúdo da bolsa e rezar para não ficar trancado em meio a tanta fechadura, tanta porta fechada.
Hoje, emendei com ontem: nada além de uns 20  minutos de sono. Depois de ver Friends, Big Bang Theroy, um filme com a Jennifer Lopes medonha como uma policial cheia dos "pobrema" e cabelo loiro, noticiário em cima de noticiário. Cinco e meia da madruga, abri a janela e fiquei esperando que outros fizessem o mesmo. Aos poucos, as luzes iam se acendendo atrás das sacadas com vidro bindlex e os carros saindo das garagens. Sete horas, café da manhã, roupa na máquina, computador ligado. Sono algum. E aqui estou eu, bocejando feito louca, o ventilador  jogando fios de cabelo no meu nariz e nos olhos, o ar quente jogado pelo escritório, final de dia de verão. Que saco! Inveja de quem relaxa e dorme!  E esta sexta-feira com cara de segunda deixa tudo mais patético ainda. 

Autor

Jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Maristela Bairros já atuou como redatora, repórter, editora e crítica de teatro nos principais diários de Porto Alegre, colaboradora de revistas do Centro do País e foi produtora e apresentadora nas rádios Gaúcha, Guaíba AM, Guaíba FM e Rádio da Universidade, assessora de imprensa da Secretaria de Estado da Cultura e da Fundação Cultural Piratini. É autora de dois livros: Paris para Quem Não Fala Francês e Chutando o Balde, o Livro dos Desaforos, ambos editados pela Artes & Ofícios.

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