O alerta que vem do "além-mar"

Por Renato Dornelles

Mais uma vez, um jogador de futebol brasileiro se vê em apuros com sistemas jurídicos criminais em países europeus e sua carreira sob ameaça de sofrer sérios danos por acusação de crimes contra mulheres. Robinho já foi condenado na Itália por estupro coletivo. Daniel Alves está preso preventivamente, sem direito a fiança, desde janeiro, na Espanha, por suspeita de "agressão sexual". Agora, Anthony, jogador do tradicional e poderoso Manchester United, da Inglaterra, e da Seleção Brasileira, devido a acusações de violência doméstica. 

A acusação resultou no corte de Anthony da Seleção Brasileira que disputa as Eliminatórias da Copa do Mundo 2026 e no afastamento do clube inglês. Robinho teve o fim da carreira antecipado, devido, evidentemente, ao crime, e também à condenação de nove anos, já sofrida na Itália. O mesmo aconteceu com Daniel Alves, preso desde janeiro e que ainda aguarda julgamento.

Mais do que as tragédias pessoais, os três casos simbolicamente representam a incidência de violência contra mulheres no Brasil, ainda que as situações tenham ocorrido no Exterior. Aliás, em relação a Anthony, há uma acusação de maio de 2022, em São Paulo, e outra de outubro do mesmo ano, em Manchester.

Muito mais graves do que as tragédias humanas de atletas que obtiveram projeção mundial e uma grande ascensão financeira e agora veem seus nomes associados a crimes, são os números que os casos representam aqui no Brasil. Somente em 2022, foram registrados 74.930 estupros no País, em uma média de 205 por dia, oito por hora ou um a cada 7,5 minutos. E é importante lembrar da subnotificação, uma vez que muitas vítimas, por motivos diversos, como constrangimento e medo, por exemplo, não chegam a registrar o ocorrido. 

Nesse mesmo ano, mais de 640 mil processos por violência contra a mulher (incluindo feminicídios) foram abertos na Justiça brasileira. Que os casos dos jogadores de futebol (em relação a Daniel Alves e Anthony, se forem confirmados) sirvam como mais um alerta, não apenas como escândalos envolvendo celebridades. Mas como comportamentos graves, repugnantes e danosos não apenas às vítimas, mas à sociedade como um todo e que precisam ser incessantemente combatidos. 

Autor
Jornalista, escritor, roteirista, produtor, sócio-diretor da editora/produtora Falange Produções, é formado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) (1986), com especialização em Cinema e Linguagem Audiovisual pela Universidade Estácio de Sá (2021). No Jornalismo, durante 33 anos atuou como repórter, editor e colunista, tendo recebido cerca de 40 prêmios. No Audiovisual, nos últimos 10 anos atuou em funções de codireção, roteiro e produção. Codirigiu e roteirizou os premiados documentários em longa-metragem 'Central - O Poder das Facções no Maior Presídio do Brasil' e 'Olha Pra Elas', e as séries de TV documentais 'Retratos do Cárcere' e 'Violadas e Segregadas'. Na Literatura, é autor dos livros 'Falange Gaúcha', 'A Cor da Esperança' e, em parceria com Tatiana Sager, 'Paz nas Prisões, Guerra nas Ruas'. E-mail para contato: [email protected]

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