O casal indiano

Por Flavio Paiva

É notícia internacional (não tão importante, mas chama a atenção pelo ângulo que se pode explorar) um casal de indianos que estão processando o filho e a nora por não lhes darem netos depois de 6 anos de casados. O The News (@thenews.cc) complementa ainda, brincando, que colocar toda a expectativa nos outros é complicado. Eles brincaram e com razão, mas vou tratar de um outro lado da questão.

Na vida criamos inúmeras expectativas. Inevitável no processo da vida. Quanto mais amadurecemos (e isso não tem necessariamente a ver com ser novo ou velho de idade, mas de maturidade mesmo), menos expectativa colocamos. Não é nem tanto que as pessoas fiquem mais sábias. Ficam, mas é de tanto levar porrada mesmo. De gerar expectativas e, na maioria das vezes (o que é natural), vê-las frustradas. 

E isso não falo em tom depressivo não. Entendo que faz parte da vida mesmo, normal. Além disso, diz respeito de que é muito mais confortável e envolve menos responsabilidade da nossa parte colocar a expectativa da nossa felicidade (na área que for: profissional, pessoal, etc) no outro. Porque se as coisas não darem certo, ah, aí foi culpa dele ou dela. Parceiro que não correspondeu, foi traíra. Ou chefe exigente, ou que não sabe reconhecer o tanto de esforços e entregas que você faz pela firma (risos).

Mas voltando, isso acaba nos blindando numa certa medida. Se o outro é responsável pela minha felicidade, pela minha realização, pela minha promoção, até pela minha beleza, qual o meu papel? Qual é a minha responsabilidade, o que eu puxo pra mim afinal de contas? Pouco, não é?

Então, o que nos faz mais sujeitos, mais autoridade sobre nós mesmos e nossas vidas é a responsabilidade. Não a responsabilidade vista de forma prioritariamente pesada. O problema dessa palavra é que ela é falada com um peso que traz vários atributos associados a ela.

Só que ser responsável para ser dono dos seus atos e da sua vida é uma grande conquista, saborosa, aliás. Não algo pesado. Pode pesar em certos momentos? Claro que sim, porque ela envolve decisões, pensamento crítico, arcar com as consequências dos seus atos, beijar a lona, tantas outras coisas.

Mas uma vez vestindo a responsabilidade, ela pode inicialmente pesar como uma armadura, mas depois de vários anos se torna leve e mais do que tudo, muito elegante.

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