O direito à informação no futebol na era do YouTube
Por Fernando Puhlmann
"A má informação é mais desesperadora que a não informação"
Charles Caleb Colton.
O desenvolvimento gigantesco das plataformas e redes sociais, especialmente nos últimos 20 anos, transformou completamente o universo da comunicação esportiva. O papel de detentor de informação, anteriormente ocupado por uma quantidade limitada de veículos tradicionais e jornalistas, hoje pode ser desempenhado por indivíduos e coletivos, que produzem cada vez mais informação, abrindo um novo mercado para os influenciadores digitais.
Com este novo cenário, surge um novo mercado e, junto com ele, uma nova profissão: a de produtor de conteúdo para a internet. Novos modos de relação com a audiência se estabelecem e proporcionam o surgimento de influenciadores digitais, que logo se dão conta da força do YouTube e passam a criar canais que conquistam dezenas ou centenas de milhares de seguidores em pouco espaço de tempo. Mas esses novos profissionais são qualificados para o mercado da Comunicação?
A primeira questão que precisamos discutir aqui é: Quem define a qualificação do comunicador, a academia ou o público que o consome? Mas vejam bem, eu não estou aqui para desfazer da academia e nem criticar influenciador, minha proposta com esse texto é só levantarmos esse assunto para reflexão.
Muitas pessoas defendem que, para fazer parte dessa estrutura comunicativa, que detém o microfone na mão, direcionada a um grande número de pessoas, é fundamental possuir uma formação na área, afinal, lidar com a informação e as consequências desta é uma enorme responsabilidade, principalmente quando se tem um público numeroso recebendo as notícias, comentando e compartilhando as mesmas. Em contrapartida, eu particularmente, considero os influenciadores necessários no contexto da democratização da informação e da dissolução de monopólios, ainda mais no futebol.
O surgimento deles balançou a estrutura dos meios de comunicação, seja na elaboração de novos programas, visando uma pegada mais moderna e atual, seja na questão da remuneração aos profissionais. Vários agentes que estavam à margem do mercado, já afastados de grandes veículos ou até sem nunca terem chance real em alguns deles, ou por não ter uma formação reconhecida na área ou por falta de um networking, conseguiram se estruturar e passar a faturar bem no YouTube, outros que eram reféns de salários medíocres e exigências absurdas nos grupos de comunicação, puderam sair e criar sua própria fonte de renda com muito mais liberdade editorial. Óbvio que alguns tentaram e fracassaram, afinal não é tão simples assim, mas muitos conseguiram.
Então tu acreditas que o surgimento dos influenciadores só trouxe coisas boas?
Meu irmão, aqui é vida real, e na vida nada tem só um lado, junto com o YouTube e seus influenciadores veio também uma coisa muito perigosa quando falamos de comunicação, o sensacionalismo. Não que todo influenciador seja sensacionalista, mas quando tu precisas que as pessoas assistam aos teus vídeos para gerar receita para ti, o sensacionalismo passa a ser uma tentação diária e enorme.
Alguns vão dizer: " Ah, mas já existiam manchetes sensacionalistas muito antes de existir o YouTube", é verdade, mas existiam na quantidade que existem hoje? Pensem sobre isso.
Outra questão importante a ser analisada é a prática de publicidade por parte de influenciadores/jornalistas famosos. Uma questão controversa que é vetada, a priori, em grandes veículos de mídia.
Dentro dos canais de YouTube, isso se confunde muito. Para quem tem seus vídeos como uma fonte de receita, a linha do que é permitido ou não, é muito tênue, o que torna muito perigoso a disseminação de opinião como se fosse informação. Lógico que também ocorre em veículos tradicionais, pois é impossível ser imparcial o tempo todo quando falamos de seres humanos, mas como um veículo tradicional possuiu várias instâncias de "aprovação" até um conteúdo ir ao ar, normalmente se tem um filtro maior. Cada um vai ter sempre o seu viés, suas preferências. Mas a gente acredita que os veículos tradicionais de mídia têm um compromisso muito maior com a distinção. E no futebol, especialmente, é preciso diferenciar o que é informação noticiosa e informação opinativa, o que dificilmente acontece nos canais de influenciadores, embora não seja impossível ocorrer.
Nos últimos meses a discussão entre jornalistas de grandes veículos, ou até independentes, com os ditos "influenciadores" se acirrou, os primeiros se sentem prejudicados pelo comportamento, que eles julgam, leviano dos segundos. Mas será que a audiência não tem capacidade de julgar e escolher o que ouvir, ler ou assistir?
Às vezes me parece que subestimamos demais a audiência em geral, afinal ao jornalista ou influencer cabe apenas noticiar ou opinar, e não determinar o que o torcedor deve ou não gostar. Assim como em qualquer mercado, o mal profissional será limado ao natural do lugar de destaque, então confiemos um pouco no bom senso e no filtro do próprio público.
Essa guerra surda, ou as vezes não tão surda, me parece que ainda seguirá por muitos anos, porém acredito que não exista mais volta, os veículos tradicionais vão ter que aprender a lidar com esse novo momento da comunicação, onde um ser humano e um celular podem chegar a qualquer lugar do mundo com a sua opinião e informação.
A internet desburocratizou muita coisa, democratizou outras tantas e no futebol não seria diferente.
Nós da Cuentos y Circo sentimos muito orgulho de ter ajudado a construir esse novo cenário de forma direta, seja na construção de projetos como o Grenalizando, Hinchas, o canal de YouTube oficial do Grêmio FBPA( Grêmio TV) e o Serra Esporte Clube, sejam nas dicas e conselhos para os dois maiores pilares desse movimento no RS, Fabiano Baldasso e João Batista Filho, seja na mentoria que demos a Copero TV.
E para quem também quiser aproveitar essa abertura, fica o nosso conselho, aproveite o YouTube, mas lembre-se sempre: ELE NÃO É PARA AMADORES!