O Efeito Quinteros

Por Rafael Cechin

O apito final do Gre-Nal no sábado (8) foi cercado de polêmicas. Todas velhas e batidas. "O árbitro errou? Interferiu no resultado?" e "Esse ou aquele foi melhor?" são perguntas que jamais serão respondidas depois de um clássico. Por isso a coluna vai se dedicar a analisar o que ocorre dentro de campo, relativo a técnica e tática. Unicamente. Nestes quesitos, nenhum personagem é mais forte neste início de ano no futebol gaúcho do que Gustavo Quinteros.

O caminho até chegar às conquistas é longo, é verdade. Tenho muitas dúvidas inclusive se o técnico que mudou o Grêmio suporta às pressões caso algum resultado não venha. No jogo que terminou empatado em 1 a 1 o equilíbrio na posse de bola, até com pequena vantagem para o tricolor, já evidencia uma diferença grande perante o que Renato entregava.

Atletas como Pavón, Aravena e Monsalve ganham mais destaque por não ficarem estáticos no gramado, numa região apenas precisando guardar posição. As triangulações são outra marca importante, pois facilitam muito para avançar no campo de ataque e furar as defesas adversárias. E o mais fundamental é a compactação. Mesmo no início de sua passagem, com poucas partidas, dá para ver que o treinador conseguiu montar uma equipe que cede menos espaços aos rivais.

Argentino naturalizado boliviano, Quinteros foi moldado na América do Sul com títulos em todos os países e clubes pelos quais passou. Trouxe na bagagem, portanto, uma trajetória de resiliência e construção de caminhos muito difíceis. Se não é fácil ser treinador no Brasil, imagine em nossos vizinhos mais pobres e sem tradição no futebol.

Foi em Buenos Aires, no Racing, que viu seus horizontes se ampliarem para mercados maiores. Os títulos da Sul-Americana e, antes disso, o nacional elevaram o patamar dele. A chegada ao tricolor gaúcho só reforçou a tendência de alta na carreira deste profissional. Não à toa ele aproveita com tanta dedicação, à beira do campo nos jogos e, pelo o que dizem, também no trabalho do dia a dia no CT.
No Gre-Nal, o nosso personagem alterou a dinâmica, tornando os 90 minutos muito mais atrativos. Não estou dizendo claro que Renato não ganharia. É que Quinteros elevou a competitividade. Com Roger na outra casamata, ficou melhor ainda. Mesmo que ainda tendo ajustes a serem feitos, com carências de reforços, os dois demonstraram que podem evoluir, o que é muita coisa.

No Inter, o fato de ter criado mais chances no clássico mostra que a efetividade precisa ser alcançada novamente. Desde o fim de 2024 o colorado não aproveita o domínio sobre os adversários. É confiável ainda, tem potencial para crescer, mas precisa melhorar na frente.

E só para não dizer que não falei das polêmicas, lá vai: foi pênalti, a exclusão de Roger não é novidade numa regra que existe há quase uma década para coibir malandragem dos treinadores e dou razão para a maioria de que o lado vermelho merecia vencer mais do que o Grêmio. São as minhas opiniões, sei que não serão aceitas por todos e encerro o texto justamente porque não quero entrar em discussão velha e batida. Prefiro debater fatores técnicos e táticos.

Autor
Jornalista graduado e pós-graduado em gestão estratégica de negócios. Atua há mais de 25 anos no mercado de comunicação, com passagem por duas décadas pelo Grupo RBS, onde ocupou diversas funções na reportagem, produção e apresentação, se tornando gestor de processos e pessoas. Comandou o esporte de GZH, Rádio Gaúcha, ZH e Diário Gaúcho até 2020, quando passou a se dedicar à própria empresa de consultoria. Ocupou também, do início de 2022 ao final de 2023, o cargo de Diretor Executivo de Comunicação no Sport Club Internacional. Atualmente mantém a própria empresa, na qual desde 2021 é sócio da Coletiva,rádio, e é Gerente de jornalismo e esporte da Rádio Guaíba.

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