O eleitor não está afim dos programas eleitorais na televisão

Por Elis Radmann

A cada eleição vem diminuindo o interesse do eleitor nos programas eleitorais dos candidatos, conhecido oficialmente como HEG (Horário Eleitoral Gratuito) que passa na televisão as 13:00 e as 20:30 horas. Pelos estudos longitudinais do IPO - Instituto Pesquisas de Opinião, há pouco mais de uma década, metade da população assistia aos programas dos candidatos. Atualmente este número oscila entre 33% e 25%, dependendo do humor do eleitor em relação aos nomes em disputa.

A audiência aumenta em cidades com candidatos competitivos, que chamam a atenção dos eleitores ou que apresentam propostas críveis que estimulam o eleitor a trocar ideia com outros eleitores. Quando os candidatos têm a oferecer, os eleitores se motivam a ligar ou a manter a televisão ligada.

Cidades mais prósperas também apresentam maiores índices de audiência. Ao contrário, em cidades socialmente mais vulneráveis, o interesse do eleitor é menor.

Outro fenômeno é o cansaço do eleitor com os eternos candidatos. Como figurinhas repetidas não enchem álbum, a audiência aos programas eleitorais diminui quando os candidatos são demasiadamente conhecidos pelo eleitor ou quando há a sensação de que os candidatos não são preparados.

Em muitos casos, a sensação de despreparo dos candidatos está associada à qualidade dos programas eleitorais. Há programas eleitorais que não mostram o seu posicionamento, "não contam uma história", não possuem estética minimamente compatível com o padrão televisivo ou não conseguem externar o motivo pelo qual o candidato quer ser eleito. E sempre tem aquele que esquece do mais básico, pedir o voto!

Não é à toa que boa parte dos estrategistas de campanha apostam na força dos comerciais, que atingem o eleitor no meio da programação de sua preferência.

Fazendo uma análise mais sistêmica, temos que considerar outros fenômeno que estão motivando o processo de decisão do eleitor:

a) o avanço das redes sociais, que empoderam o eleitor e permitem que ele seja mais ativo, stalkeando os nomes que são do seu interesse e também que ele seja atingido pelos impulsionamentos dos candidatos;

b) o receio com as Fake News, que fortalece a importância das redes de relação, fazendo com que o eleitor troque ideias com os reconhecidos formadores de opinião de sua bolha: pessoas que se interessam e falam sobre política;

c) o tradicional visual de campanha, que faz a divulgação das marcas e desperta o interesse dos eleitores a prestar atenção ou pesquisar por aqueles nomes que ocupam as ruas da cidade.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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