O escritor múltiplo
Por José Antônio Moraes de Oliveira
"Sua escrita possui uma
beleza intolerável".
François Mauriac.
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Escritor de imenso sucesso, o belga Georges Joseph Christian Simenon ganhou fama mundial graças ao seu personagem maior, o Comissário Jules Maigret, um dos grandes vultos da literatura policial. Mas era igualmente possuidor de talentos múltiplos e diversificados, sendo capaz de escrever sobre tudo e todos, além de criar uma galeria de personagens notáveis.
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Georges Simenon produziu nada menos do que quinhentas obras, incluindo 192 romances e 158 novelas. Com Jules Maigret como protagonista, foram 85 romances e contos, além de cerca de 130 romances chamados "non-Maigrets". Foi traduzido para o chinês, esperanto, senegalês, dialetos russos e românicos, um total de 55 línguas. E vendeu algo como 500 milhões de exemplares, mais do que Victor Hugo, Émile Zola e Honoré de Balzac.
A partir de 1970, Simenon dedica-se à autobiografia, "Memórias Íntimas", publicada em 1981. Ele é visto como um caso raro na literatura moderna - todos seus livros alcançaram enorme sucesso e não existe uma única aventura do Comissário Maigret que não tenha sido um best-seller. Mas não é somente o sucesso comercial que se reconhece em Simenon. Existe consenso sobre a qualidade literária de sua obra, como afirma André Gide:
" É o mais autêntico romancista da literatura francesa contemporânea.
Seus biógrafos registram ainda sua fecundidade e energia, pois produzia de 60 a 80 páginas por dia. E registram a diversidade criativa de quem escreveu dezenas de textos usando nada menos do que 27 pseudônimos diferentes.
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Consta que, entre os muitos milhões de leitores fiéis, haviam figuras célebres, como Mao Tse-tung, o presidente Lyndon Johnson, Charles Chaplin, o rei da Suécia, Carlos XVI, Céline, André Maurois e Henry Miller. Ele foi não apenas o mais lido, mas também o autor do gênero policial mais filmado de todos os tempos. Seus arqui-rivais no cinema são Graham Greene e Ian Fleming e nos livros, os clássicos Arthur Conan Doyle e Agatha Christie.
Apesar das diferenças físicas e das preferências culinárias, Jules Maigret se aproxima mais de Hercule Poirot e Sherlock Holmes do que dos americanos do cinema noir, como Philip Marlowe de Raymond Chandler e Sam Spade de Dashiell Hammett. Uma galeria de heróis de ficção, mas tão habilmente esculpidos que muitas vezes parecem ser de verdade.
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