O fêmur quebrado

Por José Antônio Moraes de Oliveira

Ela usava óculos e tinha os cabelos claros e curtos. Margaret Mead foi antropóloga, autora e personalidade marcante na cultura norte-americana do século XX. Como comunicadora com forte presença na mídia de massa, frequentemente era taxada como  revolucionária e controversa. Seus relatórios sobre as atitudes em relação ao sexo nas culturas tradicionais do Pacífico Sul e do Sudeste da Ásia influenciaram a revolução sexual dos anos 60.

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Sua biografia registra um episódio peculiar, que ajudou a projetar sua visão sobre as origens da Civilização. Aconteceu quando um repórter do Washington Post a questionou sobre qual teria sido o primeiro momento civilizado na história da Humanidade. Ele certamente esperava uma menção ao fogo, à lança de pedra ou à primeira faca de caça. A resposta de Margaret Mead o surpreendeu e se tornou referência:

"Acredito que primeiro sinal de civilização foi o achado de um primitivo osso de fêmur quebrado e cicatrizado. No reino animal aquele que quebra a perna, morre. Não pode correr do perigo,    ir ao rio beber água ou caçar para comer. Passa a ser alimento para os predadores. Com o homem primitivo, não era diferente, ele não poderia sobreviver com a perna quebrada, até o osso cicatrizar. Um fêmur quebrado que cicatrizou é evidência de que alguém esteve ao seu lado, cuidou da fratura e o alimentou até que se recuperasse".

"Ajudar alguém caído foi o sinal que a civilização estava começando".

A antropóloga completou sua teoria afirmando que a sociedade vive seu melhor momento quando serve aos outros. E que, para sobreviver, devemos seguir o exemplo daquele homem primitivo, para dar continuidade à nossa condição de civilizados:

 " Se abdicarmos disso, estaremos no caminho para a barbárie".

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Antropólogos e pensadores modernos, a partir de Claude Lévi-Strauss e muitos outros, seguem a mesma linha de pensamento. Concordam que não se deve esperar por governos ou instituições para resolver problemas sociais, pois todas as mudanças tem origem na paixão das pessoas.

Em tempos de Wikipedia, frases e pensamentos ganham muitos autores. Uma frase lapidar, que seria da famosa antropóloga, é atribuida a muitos, incluindo ao inovador Ray Kroc, fundador do McDonal's. Mesmo assim, ela representa Margaret Mead:

"Nenhum de nós vale o mesmo que nós todos juntos".

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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