O final do ano traz consigo muitos sentimentos

Por Elis Radmann

Para fazer pesquisa de opinião em dezembro é preciso muita empatia e resiliência para ouvir as inquietações ou até lamúrias dos entrevistados. Sem dúvida, é um mês ímpar e, mesmo sendo um mês com significado especial para o mundo Cristão, a frase que mais se escuta no senso comum é: "meu Deus, em dezembro parece que o mundo vai acabar".

O mês de comemorar o nascimento de Jesus Cristo é um momento em que se celebra a vida e renova-se os votos de esperança. Na semana seguinte, tem-se a virada do ano. É o período de se fazer a retrospectiva do ano que se foi, em que alguns comemoram as conquistas mostrando gratidão e outros reclamam ou falam de suas decepções. E o planejamento dessas duas comemorações, que geralmente ocorrem em família, acaba gerando uma explosão de sentimentos, bons e ruins.   

Para quem já tem um cotidiano de responsabilidades, dezembro acaba se tornando um mês muito pesado, pois é neste mês que se faz todos os fechamentos simbólicos e protocolares do ano, o que traz ansiedade para muitas pessoas. 

Começa com a ampliação do movimento nas ruas, no trânsito e em todo comércio. E esta movimentação tira a paciência de muitas pessoas. A agenda fica mais apertada, temos menos dias "efetivamente" úteis e o dobro de visitas para fazer, eventos ou compromissos. As crianças entram em férias e as formaturas acabam misturando estresse com alegria.

Muitos ficam eufóricos com o décimo terceiro e esse entusiasmo pode virar angústia quando se soma todas as novas contas que chegam em dezembro, como IPTU, IPVA, entre outros. 

Nestas poucas linhas relatei uma breve síntese dos sentimentos conflitantes que mexem com as pessoas em dezembro. Na prática, saímos da zona de conforto, ampliamos a correria e o consumismo, para depois sentarmos e comemorarmos com as pessoas que amamos e, principalmente, sermos motivados a olharmos para dentro de nós mesmos, de revisitarmos a nossa caminhada.

Se pararmos para analisar, os novos "olhares" ou a revisão de conceitos ocorrem quando saímos da nossa tranquilidade, quando somos estimulados ou até mesmo obrigados a reencontrar um parente, a dar atenção à família, a contar o que estamos fazendo ou pensando. O final de ano é um certo termômetro da felicidade, que pode nos mostrar um resultado mais positivo ou negativo.

A grande lição que o Natal e o Ano Novo nos trazem está associada à nossa capacidade de nos reinventarmos e de sonharmos. Logo, é muito importante chegarmos neste período com uma revisão de nossas ações e comportamentos em 2022 e com um planejamento do que pretendemos fazer ou ser em 2023.

A perspectiva de melhoria contínua, de progresso emocional, motiva mais perguntas do que traz respostas. Precisamos olhar tanto para nossa "aparência" (o que representamos ou buscamos) quanto para nossa essência (o que acreditamos, quem realmente somos). 

Quanto maior for o alinhamento entre a nossa "aparência" com a nossa "essência", maior será a capacidade de termos um auto entendimento de que "fazemos aquilo o que falamos" e que "tratamos o outro como gostaríamos de ser tratados."

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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