O golpe dos 'influenciadores'

Por Cris de Luca

Há um tempo, eu vi no stories de um colega de faculdade um card de uma marca de camisetas que pedia para que homens com X seguidores do Instagram entrassem em contato com a marca para receber uma camiseta por mês, se não me engano, e passar a fazer parte do time de influenciadores deles. Lembro que chamei ele no direct e perguntei se ele conhecia o pessoal da empresa para dar um toque que era meio vergonhoso fazer esse tipo de coisa. Ele disse que não conhecia e que estava compartilhando para ganhar uns produtos. Dei aquela chamada de atenção, claro, até mesmo porque quase todo mundo sabe que não é assim que tu passas a ser um "influenciador".

E por que eu digo que quase todo mundo sabe? Porque, na última semana, tivemos muita gente caindo no golpe dos "influenciadores" da Adidas. Então, minha gente, sim, muita gente passou a seguir o perfil @AdidasInfluenciadores que pedia para perfis com mais de 200 seguidores (sim, apenas 200) compartilhassem uma imagem nas suas redes que 100 pessoas seriam escolhidas para serem embaixadoras da marca e receber um kit Adidas por mês para postar nas redes e afins. O que mais me admirou nisso tudo acho que nem foi a cara de pau e falta de caráter de uma criatura para usar uma grande marca, mas saber que pessoas da minha "bolha" caíram nessa emboscada. Até compartilhei um post que a Fernanda Pandolfi fez no Instagram e que corrobora com o que eu acredito quando se fala sobre marketing de influência.

Não, essa disciplina e forma de fazer marketing/comunicação não nasceu quando as redes sociais surgiram. Existe desde que o mundo é mundo e nunca dependeu das marcas para existir. Ser um "influenciador" não é só ganhar "recebidos". E muita gente achando que é só receber presentes e por ter um número bom de seguidores passa a se apresentar como tal. Mas quem disse que tu influencias mesmo? Acho que já escrevi sobre isso aqui. Quem decide ou percebe alguém como uma figura que produz um bom conteúdo e realmente influencia os consumidores de um determinado mercado é a própria marca ou a agência que trabalha com ela e faz um trabalho sério de acompanhamento deste público.

Mas a culpa não é só deles, claro! Porque temos marcas e profissionais de comunicação e marketing que acham que trabalhar com criador de conteúdo/influenciador é só enviar produtos, convidar para eventos e afins. Sabemos que empresas menores que nem sempre têm recursos para fazer alguma ação mais efetiva, remunerar o criador de conteúdo, mas é necessário um relacionamento mais próximo, mais profundo e uma criação de conteúdo em conjunto, a tal co-criação que o povo tanto fala. As marcas precisam entender que buscar pessoas para ações deste tipo não depende somente do número de seguidores, depende de terem os mesmos valores da marca, de fazer sentido e entrega de qualidade para o público que se quer atingir. E isso não vai acontecer colocando um card nas redes sociais pedindo para os "influenciadores" fazendo um trabalho que deveria ser da marca ou da agência. Deixem de ser preguiçosos! Se não sabem como fazer, contratem profissionais que podem auxiliar nisso. Uma vez a gente falava que a comunicação de uma empresa ficava a cargo do "sobrinho" que não tinha dado certo em outra área. Aí, quando surgiram as redes sociais, o papel de fazer a gestão dessas canais passou para este ser. Pelo jeito, o pessoal agora passou a função com os "influenciadores" para esta figura. Nas duas anteriores, o pessoal já se ligou que não pode deixar na mão de qualquer pessoa algo tão essencial dentro de uma empresa. Espero que logo se toquem que não dá para fazer marketing de influência de qualquer jeito! Oremos!

Autor
Jornalista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Marketing e mestre em Comunicação - e futura relações-públicas. Possui experiência em assessoria de imprensa, comunicação corporativa, produção de conteúdo e relacionamento. Apaixonada por Marketing de Influência, também integra a diretoria da ABRP RS/SC e é professora visitante na Unisinos e no Senac RS.

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