O maior problema do brasileiro está dentro de casa

Por Elis Radmann

Imagine você respondendo uma pesquisa de opinião, tendo que pensar no principal problema da sua cidade ou do seu Estado?

A resposta a essas duas perguntas varia de acordo com a classe social do entrevistado. A população de menor renda vai lembrar da saúde e as pessoas com maior renda se preocupam mais com a mobilidade urbana, com a infraestrutura do município ou do Estado. Para ambos, aparecem os demais temas de forma secundária. Quanto menor a renda, maior a relevância da educação e a segurança pública é prioritária para os de maior renda.

Quando a pergunta sai da visão macro, coletiva, para um olhar micro, do indivíduo, o problema muda de figura e há um certo consenso sobre a necessidade de melhorar a economia do país. Todas as classes sociais se preocupam com o rumo da economia.

A última pesquisa de opinião realizada pela CNT (Confederação Nacional dos Transportes) com uma amostra dos brasileiros, demonstrou que as ações que precisam ser realizadas na economia brasileira dizem respeito: a geração de empregos (33,4%), redução dos impostos (20,6%), redução da taxa de juros (16,8%), redução da inflação (12,4%), aumento dos salários (10,3%), redução do valor do dólar (2,5%) e 3,5% da população não soube informar.

Nas entrevistas qualitativas realizadas pelo IPO - Instituto Pesquisas de Opinião, com diferentes segmentos sociais e faixas etárias, se observa o quanto o tema da economia está no centro das preocupações familiares. A população de baixa renda se preocupa com o desemprego e o setor produtivo está percebendo a ampliação do "peso" da tributação nos custos fixos de seus negócios.

Esse é um tema que afeta todos os grupos sociais, tanto o trabalhador quanto o aposentado ou o empreendedor estão preocupados com a diminuição do poder de compra, com o aumento da inflação e ampliação da taxa de juros e, principalmente, com o quanto essa "crise econômica" irá limitar a mobilidade social das pessoas, o crescimento dos negócios e o desenvolvimento econômico como um todo.

Retomando a análise da pesquisa CNT, verifica-se que 58,9% da população acredita que os preços dos alimentos têm aumentado nos últimos meses, reconhecendo que o seu poder de compra está diminuindo. E 70% dos brasileiros acreditam que o aumento dos juros exerce influência em sua situação financeira, dentro de suas casas.

Colocando a lupa na população de menor renda, fica mais evidente a preocupação que cada família tem com a sua subsistência básica, com a manutenção do custo fixo das residências. Esta conjuntura diminui a autoestima das famílias e sua perspectiva de melhoria a curto e médio prazo. Como dizem, "se o plano é viver para pagar as contas, não há muito espaço para os sonhos".

Quase metade dos brasileiros deposita esperança no governo Lula e acredita que seus focos serão o combate à pobreza, o cuidado com a saúde, atenção à educação e geração de empregos. Este grupo comemora a diminuição dos combustíveis e a política para retomada dos carros populares.

A outra metade acredita que Lula não terá capacidade de combater a corrupção, não tem um plano para auxiliar os estados no combate ao crime organizado e não terá condições de trazer a estabilidade econômica de seu segundo governo.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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