O Tesourinha é da comunidade

Por Márcia Martins

Mais de 500 usuários mensais do Ginásio Municipal Osmar Fortes Barcellos, Tesourinha, encravado na divisa do bairro Cidade Baixa com Menino Deus, tiveram as atividades esportivas de lazer realizadas naquele local suspensas pela Prefeitura, sem nenhum aviso prévio, sem comunicação oficial, sem nenhuma conversa com os idosos, adultos, jovens e crianças que utilizavam aquele espaço. Importante ressaltar que ali ocorriam aulas semanais de ginástica, em diversas modalidades, danças, alongamento, judô, capoeira, ritmos e outras. Um ginásio poliesportivo - talvez o maior e melhor equipado da Prefeitura - fechado, entregue às traças, porque nem mesmo a limpeza diária da frente do local tem sido feita.

Vamos aos fatos. No dia 11 de setembro, teve início uma obra do lado direito do ginásio, e a promessa da titular da Secretaria Municipal do Esporte, Lazer e Juventude (SMELJ) de que a reforma terminaria em oito meses. Os alunos matriculados no ginásio prosseguiram com as aulas no lado esquerdo até dezembro do ano passado. É usual que em janeiro e fevereiro não ocorram aulas já que os professores são deslocados para os Centros Comunitários. Só que os usuários aguardavam o reinício das aulas em março, conforme a projeção de usar o lado oposto da obra. Mas, no dia 27 de fevereiro, um card bizarro - sem detalhes - foi postado nos grupos de whats dos alunos comunicando o encerramento das aulas no Tesourinha.

Depois de alguma pressão inicial, idas de alunos até o Tesourinha em busca de respostas e mobilização no entorno, a SMELJ - através da imprensa, nunca em contato com os usuários - informou que os alunos seriam realocados para outras unidades. A maioria distante, em bairros afastados, o que inviabilizou, para os alunos, o deslocamento. Sem falar que, o planejamento é palavra desconhecida na SMELJ, visto que apenas listaram onde determinadas aulas poderiam ser dadas, mas não ocorreu nenhuma previsão da ocorrência de vagas e nem de similaridade de horários com as aulas já praticadas no Tesourinha.

Pois não é que os alunos começaram a engrossar a mobilização inicial, até porque muitos têm indicação médica de realizar exercícios e não tem condições financeiras de arcar com custos de aulas particulares. E foi dada a largada de atividades em reuniões e postagens nas redes com as #tesourinhanaopodeparar e #tesourinhaedacomunidade. A intenção é reabrir o ginásio, retomar as atividades, a comunidade ser ouvida pela Prefeitura, o cronograma da obra ter transparência e a promessa de que a reforma não iria prejudicar as aulas seja cumprida

Com o abandono do Tesourinha, os frequentadores do cachorródromo, situado no lado do ginásio, temem pela manutenção do local, que chega a receber, nos finais de semana, mais de 30 tutores e tutoras de cachorros. Lá, não é apenas um espaço adequado ao lazer dos caninos. Os tutores limpam o local, promovem melhorias, fazem plantações e, desta forma, com a movimentação diária, evitam o uso inadequado do lugar pela enorme população de rua que não para de crescer em Porto Alegre.

Na quarta-feira, 13, representantes da comunidade foram pedir apoio à causa na Câmara dos Vereadores. Um dia antes, o vereador Jonas Reis (PT) havia recebido alguns alunos em seu gabinete e se comprometeu com o assunto. Ontem, a vereadora Abigail Pereira (PCdoB) agendou uma reunião solicitada pela comunidade do Tesourinha e também ouviu as reivindicações e colocou seu mandato à disposição. Os dois, Abigail e Jonas, usaram os seus 5 minutos do espaço de liderança para denunciar mais um abuso da Prefeitura. Seguimos firmes na luta!

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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