Obviedades

Por José Vieira da Cunha

Nosso jornalismo profissional, atormentado pela concorrência de influenciadores e blogs de todos os tipos e gêneros, segue penando para encontrar as melhores alternativas e soluções que assegurem uma sobrevivência saudável. Não é fácil, especialmente quando elementos essenciais como criatividade e talento são difíceis de encontrar, o que explica boa parte das obviedades que grassam pelas pautas gestadas nas redações.

Uns quatro meses atrás, nosso grupo de encontros virtuais Nova Coonline se encontrou com o jornalista Alberto Villas, editor do brilhante (sem trocadilho aqui!) OSOL, um jornal eletrônico digital que diariamente faz uma interpretação inteligente do noticiário. (A conversa está publicada no canal Nova Coonline no YouTube). Nesta letter ele acaba exercendo também o papel de um atento ombudsman, comentando inclusive fatos da cobertura de veículos internacionais.

Pois agora na entrada do ano ele fez uma edição especial de OSOL que chamou de "Perspectiva 25", trazendo "o que vai ser líquido e certo" neste novo ano. Tem tiradas espectaculares, com as obviedades jornalísticas que se repetem infinitamente. Algumas destas pérolas de previsões para 2025:

- A Polícia Federal vai fazer buscas e apreensões às seis da manhã.

- Um estudante vai chegar atrasado para fazer o exame do Enem.

- A Polícia Militar de São Paulo vai atirar em pretos na periferia, suspeitos ou não.

- Um time grande vai correr o risco de ser rebaixado para Segunda Divisão.

- Novos golpes cibernéticos serão dados.

- Autoridades mundiais vão discutir o aquecimento global.

- Milhões de brasileiros vão perder tempo assistindo o BBB 25.

- Neymar vai cair.

- O Papa vai pedir paz no mundo em guerra.

- O preço das flores vai aumentar às vésperas do Dia de Finados.

- O vilão da inflação vai surgir e ser falado durante muito tempo.

- Vamos ter seca no Pantanal.

- No último dia do ano, um queniano vai vencer a corrida de São Silvestre.

- O nosso país vai sobreviver.

E as obviedades que desfilarão pelo noticiário ao longo do ano são muito hilárias:

- No Carnaval, uma repórter da Globo vai pedir ao turista gringo pra ele mostrar o samba no pé.

- Um repórter vai aparecer no acostamento de uma rodovia pra dizer que dois mil carros vão passar por ali por minuto, no feriadão prolongado.

- Com baixa audiência, o SBT vai tirar um telejornal do ano sem dar satisfação ao telespectador.

- A imprensa vai dar um jeito de falar mal do governo Lula.

- Todo dia uma mulher vai chorar na tela da TV Globo.

- Um repórter vai entrar ao vivo dizendo que o preço do bacalhau está salgado na Semana Santa.

- Um repórter vai bater na porta de um anônimo, vai entrar e mostrar que não pode deixar água acumulada em pneus, nem deixar caixa d'água aberta, para evitar a mosca da dengue.

Valeu, Villas. Te desejo um criativo ano novo mais uma vez.

 

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas passagens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem cinco netos. E-mail para contato: [email protected]

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