OS JAGUNÇOS DO CAPITALISMO

Por Marino Boeira

Júlio Ribeiro (1933/ 2018) foi um dos mais importantes publicitários brasileiros, tanto como profissional de Criação e Planejamento, quanto como empresário, além de ter sido um dos poucos publicitários a publicar livros sobre sua área de atuação. Seu livro "Tudo que você gostaria de saber sobre Propaganda e ninguém teve paciência de lhe explicar" é ainda hoje uma fonte de referência para os interessados nessa área.

Sempre citado como o profissional que conquistou no Brasil a conta da Fiat definiu assim uma vez o publicitário: "é o jagunço das multinacionais".

Lembrei dessa citação do Júlio Ribeiro lendo a edição de segunda-feira de Zero Hora. Coincidentemente quatro jornalistas mulheres - Gianne Guerra, Juliana Bublitz, Andressa Xavier e Marta Sfredo - que tratam de assuntos de economia, criticaram o Projeto de Emenda Constitucional da deputada Erik Hilton do PSOL, que acaba com o chamado modelo 6x1 da CLT e reduz a carga de trabalho de 44 horas semanais com apenas um dia de descanso por outro modelo que permita um dia a mais de descanso. Obviamente sem uma redução do salário, igualando o trabalhador brasileiro ao seu colega dos países mais adiantados da Europa, que cumpre em torno de 35 horas semanais de trabalho.

Surpreendentemente as jornalistas, todas trabalhadoras, ainda que com outro regime de trabalho, repetiram o discurso dos seus empregadores sobre os perigos do projeto, tais como aumento de inflação, perda de empregos e danos à economia.

Obviamente, a opinião das jornalistas de Zero Hora é a mesma dos seus patrões. Há muito que os grandes jornais se transformaram naquilo que Júlio Ribeiro atribuía aos publicitários: são os jagunços das multinacionais e por extensão dos empresários brasileiros.
É a história que se repete como disse Marx, só que em vez de trágica, agora se apresenta como farsa.

Em 1934, Getúlio Vargas, ao propor um mínimo de garantias aos trabalhadores com a CLT viu todo o empresariado nacional ser contra. Os empresários não queriam as tais 44 horas semanais de trabalho com um dia de descanso e sim o regime imperante de vale-tudo onde podiam explorar os trabalhadores à vontade. Alzira Vargas, nas suas memórias do pai, lembra o que Getúlio disse sobre isso: "Esses burgueses burros não se deram conta que essa lei vai proteger também a eles".

Como naquela época, os burgueses burros de hoje não se dão conta que o fim do regime 6x1 vai ajudar a protegê-los.

Os trabalhadores passarão mais alguns anos nesse novo regime, até que um dia se revoltarão finalmente e darão fim ao regime capitalista no Brasil.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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