Os sons da guerra

Por Renato Dornelles

Quando cursava jornalismo, nos distantes anos 1980, pensava em ser correspondente de algum veículo no Oriente Médio. Desde muito antes, chamavam-me atenção os constantes conflitos naquela região do planeta. Poderia também ter escolhido algum país da África, região bastante atribulada naquele período. Mas talvez não tenha me chamado tanto atenção devido à invisibilidade do continente perante a mídia internacional. 

Não significa que eu gostasse de guerra, mas pensava em fazer um trabalho que, além de informar, pudesse, de alguma forma, contribuir pela paz. Por mais que parecesse um sonho distante. Formado, comecei a trabalhar, tive uma carreira no jornalismo que posso considerar exitosa. Foram 33 anos em redações, no dia a dia da notícia. Mas sequer cheguei perto do Oriente Médio.

Mas mesmo não saindo do Brasil, ou saindo só eventualmente para coberturas momentâneas, não deixei de cobrir guerras. Afinal, acompanhei durante boa parte da minha carreira uma guerra que consome a cada ano cerca de 50 mil vidas no país. Aliás, a meu ver, não é uma única guerra. São duas em uma: a guerra do tráfico e a chamada (e, na minha opinião, equivocada) guerra às drogas. 

Já há quase dois anos, o mundo acompanha a Guerra envolvendo a Rússia e a Ucrânia. Agora, nos últimos dias, passou-se a acompanhar os conflitos na Faixa de Gaza, a partir de uma ofensiva do grupo extremista Hamas. Já são mais de mil mortes.

Quando eu era estudante, as notícias custavam a atravessar o planeta.  Éramos extremamente dependentes de poucas agências de notícias, que monopolizavam as informações no Ocidente. Hoje, recebemos às vezes instantaneamente. E quando isso não ocorre, poucas horas depois temos acesso a vídeos que mostram combates.

Sempre me impressionaram e continuam impressionando os assustadores sons da guerra. Seguem me impressionando, apesar de eu saber que o som é o mesmo ouvido seguidamente por moradores de nossas periferias. Afinal, comunidades de áreas dominadas pelo tráfico de drogas são obrigadas a viver sob fogo cruzado, em meio a disputas nas quais são utilizadas armas semelhantes às dos fronts em regiões de conflito no planeta. 

Pela paz na Europa Oriental, no Oriente Médio e nas periferias brasileiras.

Autor
Jornalista, escritor, roteirista, produtor, sócio-diretor da editora/produtora Falange Produções, é formado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) (1986), com especialização em Cinema e Linguagem Audiovisual pela Universidade Estácio de Sá (2021). No Jornalismo, durante 33 anos atuou como repórter, editor e colunista, tendo recebido cerca de 40 prêmios. No Audiovisual, nos últimos 10 anos atuou em funções de codireção, roteiro e produção. Codirigiu e roteirizou os premiados documentários em longa-metragem 'Central - O Poder das Facções no Maior Presídio do Brasil' e 'Olha Pra Elas', e as séries de TV documentais 'Retratos do Cárcere' e 'Violadas e Segregadas'. Na Literatura, é autor dos livros 'Falange Gaúcha', 'A Cor da Esperança' e, em parceria com Tatiana Sager, 'Paz nas Prisões, Guerra nas Ruas'. E-mail para contato: [email protected]

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