Parceiros e vitoriosos

Por José Antonio Vieira da Cunha

Uma história de parceria e bom humor foi o subtítulo sugerido pelo Flávio Porcello para o livro denominado '1523', que nós escrevemos em conjunto. "Nós" aqui envolve uma equipe unida e vencedora que dirigiu a TVE e a FM Cultura entre 1995 e 1999 e que deixou saudades - no melhor sentido.

Esta equipe era formada Laís Porcellis e Liana Zogbi, dois esteios do corpo permanente da Fundação Cultural Piratini, que detinha as concessões de rádio e tv, e Antonio Bavaresco, coordenador de Jornalismo; Caio Klein, diretor Técnico; Daniel D'Alló, coordenador Jurídico; Eduardo Vital, assessor de Marketing; Flávio Dutra, diretor da FM e mais tarde de Programação da TV; Flávio Porcello, diretor de Programação; Glauco Fonseca, diretor de Marketing; Pedro Macedo, diretor da FM; e Sérgio Rotta, diretor Administrativo.

A fórmula do sucesso estava na cumplicidade, como registrei no livro que resgata a história da Confraria 1523, que nos une ainda hoje, mais de 20 anos depois. Escrevi que foi este o espírito que nos uniu lá em 1995, quando fomos companheiros e participantes de uma diretoria que marcou época na TVE e FM Cultura. Não sou eu quem diz; valho-me do depoimento de dezenas de funcionários e colaboradores destas emissoras, que ainda hoje não se omitem ao exaltar nossa diretoria como uma das positivamente mais marcantes que passaram ali pela Fundação TVE.

Lembro que quando assumimos havia um vazio de gestão e operacional. Era comum a programação ser interrompida por slides que às vezes ficavam três, quatro minutos no ar. As causas eram as mais variadas: às vezes, a fita (naquela época os programas eram gravados em fitas...) da atração estava mastigada e nenhum produtor ou editor havia se dado ao trabalho de verificar antes; outras vezes, a fita estava esquecida em alguma gaveta na redação ou na produção; e pior, houve episódios em que a fita havia sido levada para casa pelo produtor, cioso do trabalho e temeroso de que a caixinha fosse levada por algum colega, já que era um material imprescindível, porém raro.

Lembram do bom e velho Programa de Qualidade? Pois contratamos um consultor (muitas vezes eles ajudam, sim) que nos orientou sobre como reorganizar todos os processos e procedimentos internos. No início recebida com restrições e mesmo oposição dos de sempre, a iniciativa se mostrou altamente relevante e eficaz; em alguns meses acabou a exibição constrangedora de slides em vez da programação e mesmo o ambiente interno, antes eivado de ranços, se tornou outro, muito mais amigável e sadio.

Aquele núcleo dirigente da Fundação Piratini foi o responsável pela implantação das novidades e seus resultados positivos. Cada um a sua maneira, os diretores souberam manter suas respectivas áreas com equipes unidas e otimistas. Estes dirigentes, todos, afirmo com muito conhecimento de causa, eram proativos, corretos e respeitosos na execução de suas funções e especialmente no relacionamento com os funcionários. Que, por sua vez, respondiam com competência e lealdade, caso especialmente de Adolfo Nassur, Cláudio Andrade, Daniela Lopes Alves, Elizabeth Azeredo, Emanuel Gomes de Mattos, Evânia Reichert, José Evaristo Villa-Lobos, Loreni Raimundi, Luiz Carlos Mazoni, Ronaldo Santana, Rosana Orlandi e Zé Torves.

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Agora perdemos o Polenta. Sim, era assim que em nosso grupo era acarinhado o italiano Flávio Porcello. Um cara gentil e atencioso, que sempre se mostrou um grande amante da vida e da alegria. No livro em que resgatamos histórias de nossos encontros, e que permanece inédito porque aguardamos o momento mais adequado para lançar, ele denominou seu depoimento de 'A receita da convivência'. Diz que o que nos marca "é mesmo a amizade". E mais adiante, ao exaltar nossos encontros em bar: "Achamos a fórmula do bem viver. Quando nos encontramos os problemas ficam do lado fora, não sentam nem na mesa ao lado. E quando saímos a alma está leve e o espírito renovado". Assim era o Porcello, cujas gargalhadas e provocações bem-humoradas e otimismo permanente marcavam nossos encontros mensais. Até mais, Polenta.

Coluna publicada originalmente em 08/11/2021

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas passagens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem quatro netos. E-mail para contato: [email protected]

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