Pela cultura ou pelo fuzuê

Por Cris De Luca

No último sábado, 24 de agosto, aconteceu a noite de premiações do 47º Festival de Cinema de Gramado, que, para mim, é um dos eventos mais importantes que o Rio Grande do Sul tem, não só pela representatividade no mercado audiovisual nacional, mas também pelo movimento de turistas que traz ao Estado. Desde que moro aqui, não consegui subir a Serra muitas vezes para acompanhar de perto todo o movimento que deixa a cidade em polvorosa, então costumo acompanhar online mesmo. Inclusive: saudades coberturas da TV COM!

Cumprindo o meu ritual de final de festival, estava eu acompanhando ao vivo pelas redes sociais a entrega dos Kikitos, quando vi um colega, que também é professor da Uniritter, receber seu prêmio visivelmente nervoso. E, não, não era a emoção por ter ganhado uma das categorias. Foi porque durante o percurso no "tapete vermelho", enquanto ele e outros profissionais protestavam a favor da manutenção da nossa cultura e contra a censura que o governo federal está querendo impor a área, algumas criaturas atiraram pedras de gelo contra eles, sendo que ele estava com a filha de dois anos e meio no colo. Já seria um absurdo se isso acontecesse só com adultos passando por ali.

Antes de estar aqui pertinho, eu sempre escutava as pessoas falando sobre o Festival de Cinema de Gramado de maneira super carinhosa, que era um evento para ir com a família para aproveitar a cidade e o clima de "Oscar" nacional. Quando vim morar no RS, comecei a escutar sobre as festas que também aconteciam por lá e como dava para unir cultura e lazer num mesmo lugar. Também notei (e acho que todo mundo notou) que as big parties começaram a tomar uma proporção muito maior do que o cinema em si. O festival passou a ser apenas uma data no calendário para festas em Gramado.

Não que eu já não tenha aproveitado elas para me acabar num final de semana, mas parece que o povo passou a pouco se importar com o que acontece no Palácio dos Festivais, que a passagem dos profissionais para entrar na premiação pela Rua Coberta (como sempre foi) era uma afronta a quem queria estar por lá só pra se divertir. O que me deu mais um aperto no peito ainda foi saber que eu tinha vários amigos que estavam por lá nesse momento e me doeu pensar que algum deles poderia ter se "manifestado" desse jeito. Até porque se eu descobrisse, as relações seriam cortadas na hora, mas esse é outro assunto.

Ontem li alguém no Twitter falando que existiam duas pessoas que vão a Gramado nessa época: os que vão pela cultura e os que vão pelo fuzuê. Eu acrescentaria mais um: os que vão para ver as celebridades. Vejo problema em ir só pelo auê ou para tirar foto com artistas? Não. Vejo problema é em as pessoas esquecerem o porquê da cidade estar tão movimentada a mais de 40 anos no mês de agosto. É pela cultura. É pelo cinema brasileiro e latino-americano. E é importante respeitar isso acima de tudo.

Autor
Jornalista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Marketing e mestre em Comunicação - e futura relações-públicas. Possui experiência em assessoria de imprensa, comunicação corporativa, produção de conteúdo e relacionamento. Apaixonada por Marketing de Influência, também integra a diretoria da ABRP RS/SC e é professora visitante na Unisinos e no Senac RS.

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