Pela vida das mulheres

Por Márcia Martins

Depois de uma década de ausência de políticas públicas para as mulheres no Rio Grande do Sul, parece que o cenário começará a mudar. Teremos de volta a Secretaria de Políticas para as Mulheres. A recriação do órgão é resultado de uma intensa mobilização da bancada do PT/PcdoB na Assembleia Legislativa, pressão dos movimentos feministas e um trabalho incansável da Procuradora Especial da Mulher, deputada Bruna Rodrigues, que conseguiu a assinatura de 50 parlamentares do Legislativo gaúcho na moção entregue ao governador Eduardo Leite pedindo a volta da secretaria.

Na última terça-feira, com as galerias do plenário lotadas de representantes dos movimentos feministas e sociais, o projeto foi aprovado com 45 votos favoráveis e nenhum contrário. Com palavras de ordem, pedindo a aprovação já, as mulheres reforçaram na sessão plenária, a importância da pasta e a necessidade urgente de sua recriação. É pela vida das mulheres. Porque nos queremos vivas. Para que parem de nos matar.

No início de 2015, ocupei com outras companheiras, as galerias da Assembleia Legislativa para protestar contra a extinção da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), um dos primeiros atos do governo de José Ivo Sartori. A pasta havia sido criada nos primeiros dias do governo de Tarso Genro, com o objetivo de contribuir no combate à violência de gênero no Estado. Não tivemos naquela ocasião, sucesso, apesar da contagiante mobilização. E a secretaria foi extinta.

Foi com um orgulho danado que voltei às galerias para a votação do projeto de lei. Ao lado de companheiras sempre aguerridas na luta pelos direitos das mulheres vibramos muito pela recriação da secretaria. Porque desde a sua extinção, vimos um desmonte sucessivo das políticas públicas e o crescimento assustador no número de feminicídios (somente no feriado da Páscoa, o Rio Grande do Sul registrou 12 feminicídios).

Levantamento da Lupa Feminista aponta que nos sete primeiros meses do ano, o Estado contabilizou 45 feminicídios (homicídio de mulheres por serem do sexo feminino, um crime que ocorre em contexto de violência doméstica e familiar, ou por menosprezo ou discriminação à condição de mulher, tipificado em 2015). E, para lidar com este cenário de extermínio das mulheres, temos apenas 23 delegacias especializadas para 497 municípios e 70% das cidades gaúchas não contam com equipamento público para as vítimas.

Logo, a recriação da secretaria era mais do que necessária. Nunca deveria ter sido extinta. E nem demorar tanto para ser recriada. Repito: pela vida das mulheres.

Obrigada deputada Bruna Rodrigues (PcdoB), por liderar o movimento e pelo excelente discurso no plenário, quando afirmou: "quero dizer para aquelas famílias que, infelizmente perderam as suas membras, perderam a sua mãe, aqueles filhos que perderam a sua mãe, que hoje esse parlamento se manifesta e diz que nós vamos ter uma medida efetiva". Também a deputada Laura Sito (PT), que disse: "queremos mais orçamento, queremos uma secretaria que seja capaz de recuperar a capacidade de pensar políticas públicas para as mulheres de maneira transversal. Que seja capaz de pensar as políticas de gênero, numa perspectiva estratégica sobre as políticas do Estado".

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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