Pequenas delícias e travessuras de uma primavera

Por Márcia Martins

Mesmo que vocês que me acompanham (sim, não me deixem só) ainda estejam com o foco voltado para corpo e mente no projeto verão, permitam-se pequenas delícias e travessuras de uma primavera que traz mais do que promessa de vida nos nossos corações. Esqueçam da ditadura do corpo perfeito e da mente livre de qualquer aborrecimento, e mergulhem nas amenidades e possibilidades da estação que transita lépida e faceira entre o inverno rigoroso e chuvoso e o verão que nos arrebata de temperaturas elevadas e suores nos corpos. É tempo de encontros, troca de afetos, passeios, cinemas, cafés, vinhos e chopes.

Tem sensação melhor e mais estimulante do que sentir o vento no final de cada tarde ensolarada movimentando os nossos cabelos? É a primavera! Tem cenário mais inspirador do que ver o colorido das flores brotando nas árvores que ainda resistem nesta Porto Alegre das construções e do concreto? É a primavera! Tem situação mais estimulante para sair às ruas do que ver as pessoas passando sem estarem escondidas sobre casacos e boinas? É a primavera. Tem algo mais convidativo do que sentar à mesa em um dos cafés da Cidade Baixa, depois das 18h, e jogar conversa fora com amigos e amigas? É a primavera.

Com a natureza colorida em tons vibrantes, o canto dos pássaros afinados e as temperaturas mais amenas, o corpo quer mesmo é se movimentar, sair da toca, exercitar os membros. Coisas da primavera. Com os dias já um pouco mais longos e os novos aromas que desabrocham das flores, a mente quer mesmo é soltar-se de qualquer probabilidade de problema. Coisas da primavera. E assim como os animais que hibernaram no inverno, com a chegada da primavera nasce uma vontade incontrolável de deixar nossas tocas, casas, apartamentos, abandonar nosso clausuro.

Não sei se é a beleza estonteante da natureza que se espalha em cores ou a ideia de renovação que ela carrega ou simplesmente porque marca, de forma definitiva, o fim do inverno, mas a primavera me inspira a soltar um pouco o lado poético, a fazer desvarios e acreditar em novas utopias, a buscar as pessoas para encontros, a apostar em dias melhores. E porquê não? Entre girassóis, orquídeas, rosas, margaridas, violetas, tulipas e hortênsias (ah, como lembram a minha infância) que desabrocham na primavera, eu me permito também desabrochar para as alegrias, as realizações e as doses mais generosas de felicidade.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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