IN FORMA
Por Marino Boeira
Uma característica histórica da esquerda sempre foi de olhar para frente. A imobilidade e o retrocesso político são metas da direita. Hoje, no Brasil vivemos uma situação estranha, onde um partido que se diz de esquerda, o PT, prega o imobilismo e seus adeptos se recusam inclusive a debater qualquer projeto político que contemple um avanço nas relações sociais. E não está se falando ainda do que deveria ser a ambição de qualquer partido de esquerda, a construção do socialismo.
Na mídia e principalmente nas redes sociais os petistas se dedicam a praticar aquilo que condenavam no passado, o culto às personalidades. No caso dos petistas esse culto é singular. No altar deles só existe um deus, é o Lula, primeiro e único. Tudo que ele faz e diz está certo. Criticá-lo é sonhar com a volta do seu inimigo, Jair Bolsonaro.
A pobreza dessa visão maniqueísta tem uma origem religiosa. Como o Lula é encarnação do bem, Bolsonaro é o mal. É a luta bíblica do diabo contra o bom deus e nessa luta a visão crítica é banida, o que não impede o cinismo de algumas justificativas para certos atos de petistas históricos.
Quando o Parlamento examinou um dos poucos atos corretos de Lula, o seu veto ao projeto que impedia presos de bom comportamento que cumpriam penas em regime semi-aberto, a passarem determinadas datas em casa com suas famílias, a deputada Maria do Rosário votou contra.
E não era uma parlamentar qualquer. Ela já tinha sido inclusive a ministra dos Direitos Humanos. Sua justificativa foi que votara para impedir que a direita continuasse a criticando. Obviamente estava de olho nos votos dos punitivistas, dos que repetem aquela fala de que "bandido bom é bandido morto", uma vez que seria a candidata do PT à prefeitura de Porto Alegre.
Ainda que restrito ao âmbito municipal, 2024 é um ano eleitoral. Será que eleições, apesar de historicamente terem perdido a característica de ser um momento de grandes debates políticos, vão servir apenas para a discussão de questões paroquiais?
No Rio Grande do Sul e principalmente em Porto Alegre vamos ter uma caça às bruxas. Quem são os maiores culpados pelas inundações? Além do grande vilão, o prefeito Sebastião Melo, quem mais vai para o patíbulo? E quem serão os verdugos? Representantes dos governos Leite e Lula, que pouco fizeram pela Cidade e pelo Estado, terão o direito de jogar a primeira pedra?
Será que Maria do Rosário, que representa a esquerda bem comportada do PT e do PSOL vai atacar os representantes locais do sistema capitalista - os grandes empresários ligados à construção civil, que em busca do lucro fácil reconstruíram a cidade a sua maneira e a grande rede de comunicação, a RBS que tudo justifica?
Ou será que a fala do ex-ministro José Dirceu de que o PT é hoje um partido de centro-direita está correta? Possivelmente seguindo o conselho de alguns amigos mais prudentes José Dirceu não tocou mais nesse tema, mas as posições nacionais e estaduais do partido indicam que ele tinha razão.
A disputa eleitoral em Porto Alegre está condenada a ser um debate entre o Centro, representado por Melo e mais alguém do PSDB e a centro direita de Maria do Rosário ou a esquerda se apresentará para o pleito? Quem sabe Juliana Brizola possa ser a lembrança de que Porto Alegre já foi uma cidade rebelde com seu avô, Leonel Brizola em 1961.