Precisamos falar de SAFs

Por Rafael Cechin

O vazio de dupla Gre-Nal (que pelos últimos jogos dos times acaba sendo um alívio para a irritação do torcedor) provocado pela Copa de clubes traz à tona mais uma vez o debate em torno das SAFs no Brasil. Na nossa gangorra, a eleição do Grêmio e estudos feitos pela direção do Inter dão mais força ainda à discussão. Antecipo que minha opinião é de que não estamos prontos, mas trago aqui alguns aspectos que tornam o assunto indefinido.

Vamos avaliar primeiro a competição atual, que está na moda e gera grandes audiências para todos os que fazem a cobertura jornalística nos Estados Unidos. No Mundial temos Flamengo, Palmeiras, Fluminense e Botafogo como os nossos representantes. São exemplos bem-sucedidos de boas administrações desde o início da década, que resultam em títulos importantes e a classificação para o torneio.

Qual deles é SAF? Só um, o Botafogo. Está longe de ser um modelo. Para começar, porque a compra do controle acionário do clube ocorreu por uma mixaria: cerca de R$ 400 milhões, valor muito baixo para uma associação mais do que centenária, com milhões de fãs, patrimônio bem localizado no Rio de Janeiro, no centro do país. A empresa do norte-americano John Textor desembarcou no país explorando um clube falido, desesperado para pagar as suas dívidas.

No lado esportivo, o alvinegro carioca evoluiu muito. Conquistou títulos e um espaço no futebol que não faziam parte de sua realidade até então. Ponto para a SAF. Agora, o que fica para o Botafogo se Textor resolver ir embora? Nada. Os interesses financeiros do dono sempre vão prevalecer sobre os da torcida. Não significa que sou contra o modelo adotado, nem mesmo que contesto os resultados. O que trago aqui é que uma instituição gigante se transforma em trocado para um empresário sem ligação alguma com os botafoguenses ou com o Brasil.

Para mim, não houve ainda quem acertasse com a SAF no nosso país. Vasco e Cruzeiro, semelhantes ao Botafogo como negócio, enfrentam contínuas dificuldades. O Bragantino não embala, assim como o Atlético-MG. O Fortaleza, que aparentemente soube lidar melhor com as questões estatutárias deixando o controle acionário para os seus sócios, também não tem conseguido manter a boa fase.

Aliás, o estatuto é outro aspecto fundamental no debate. Tanto Grêmio quanto Inter teriam de revisar as regras das suas associações para implantar uma sociedade anônima. Sem falar que os dirigentes amadores, que tomam conta dos clubes atualmente e não têm tido sucesso nos últimos anos, continuariam dando as cartas, dificultando a ideia de profissionalização obrigatória para uma empresa que pretende dar certo.

Por enquanto, prefiro exaltar as boas gestões. Flamengo, Palmeiras e Fluminense estão na Copa do Mundo de Clubes. São ótimos exemplos a serem copiados, não por serem SAF. Talvez seja inevitável que um dia a dupla Gre-Nal também adote essa medida. Antes, no entanto, há vários ajustes a serem feitos.

 

Autor
Jornalista graduado e pós-graduado em gestão estratégica de negócios. Atua há mais de 25 anos no mercado de comunicação, com passagem por duas décadas pelo Grupo RBS, onde ocupou diversas funções na reportagem, produção e apresentação, se tornando gestor de processos e pessoas. Comandou o esporte de GZH, Rádio Gaúcha, ZH e Diário Gaúcho até 2020, quando passou a se dedicar à própria empresa de consultoria. Ocupou também, do início de 2022 ao final de 2023, o cargo de Diretor Executivo de Comunicação no Sport Club Internacional. Atualmente mantém a própria empresa, na qual desde 2021 é sócio da Coletiva,rádio, e é Gerente de jornalismo e esporte da Rádio Guaíba.

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