Provocações linguísticas

Por Flávio Dutra


Meu bom amigo Márcio Pinheiro, jornalista rodado, escritor talentoso, colorado ardoroso e um ativo parceiro na Confraria do Alemão, é conhecido também  por algumas teses contra o senso comum, que faz questão de tornar públicas. Ele se manifesta sistematicamente, por exemplo, contra as ciclovias, não porque seja contra o ciclismo, tanto assim que dá suas pedaladas, mas porque acredita que   o crescimento dos espaços exclusivos para os ciclistas atrapalha mais do que facilita o trânsito em Porto Alegre.

Polêmico como sempre, o Marcito, como gosta de ser chamado, listou nas redes sociais   as expressões que, se alguém flagrar ele escrevendo,  "pode separar que é briga". Eis algumas: cão comunitário para se referir a cão vira-lata;  tutor para se referir a dono (de cão); orla para se referir à beira do rio; lago para se referir ao Guaíba; Centro Histórico para se referir ao centro de Porto Alegre; "todes"  ou "todas e todos" para se referir a "todos"; "presidenta" para se referir a quem ocupe o cargo de presidente.

Concordo com quase tudo, exceto a referência ao Centro Histórico, que considero uma expressão mais charmosa, assim como orla ao invés de beira. Suspeito que o Marcito não goste de orla para não ter que mudar o nome do estádio do seu amado Inter. Estádio Orla-Rio ficaria bem estranho. 

A verdade é que a postagem do companheiro provocou muitas interações, a maioria a favor das suas aversões. Houve, ainda, mais contribuições, acrescentando palavreados da moda e indo ao encontro da coluna da semana passada aqui na Coletiva.net - "Enriquecendo o vocabulário além do juridiquês". Apareceu narrativa, demanda, dinâmica.  Em outra postagem, o amigo Júlio Sortica lembrou as imbatíveis imersivas e disruptivas, só faltou pertencimento,  mas pintou também uma das antigas, pelo Zurba Fagundes: supimpa. 

Uma das minhas implicâncias é quanto ao desconforto muscular que a rapaziada do Esporte não cansa de usar para se referir às distensões musculares.  E tem ainda o copo cheio e o copo vazio que os comentaristas usam quando querem dizer que tudo é relativo, sem contar a abominável uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Nada dá mais satisfação a quem faz postagens regulares nas redes sociais do que os comentários dos amigos virtuais.  Não interessa se contra ou a favor. Pior é a indiferença. Agora só resta agradecer ao Marcito por garantir assunto para mais uma coluna.

Autor
Flávio Dutra, porto-alegrense desde 1950, é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com especialização em Jornalismo Empresarial e Comunicação Digital. Em mais de 40 anos de carreira, atuou nos principais jornais e veículos eletrônicos do Rio Grande do Sul e em campanhas políticas. Coordenou coberturas jornalísticas nacionais e internacionais, especialmente na área esportiva, da qual participou por mais de 25 anos. Presidiu a Fundação Cultural Piratini (TVE e FM Cultura), foi secretário de Comunicação do Governo do Estado e da Prefeitura de Porto Alegre, superintendente de Comunicação e Cultura da Assembleia Legislativa do RS e assessor no Senado. Autor dos livros 'Crônicas da Mesa ao Lado', 'A Maldição de Eros e outras histórias', 'Quando eu Fiz 69' e 'Agora Já Posso Revelar', integrou a coletânea 'DezMiolados' e 'Todos Por Um' e foi coautor com Indaiá Dillenburg de 'Dueto - a dois é sempre melhor', de 'Confraria 1523 - uma história de parceria e bom humor' e de 'G.E.Tupi - sonhos de guri e outras histórias de Petrópolis'. E-mail para contato: [email protected]

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